Vedetes em outros carnavais, as máscaras dos políticos brasileiros estão em baixa entre os foliões de Belo Horizonte. Aquelas que ainda são encontradas em lojas da capital são resto de estoque do ano passado, e mesmo com preços menores, continuam encalhadas nas prateleiras. Na tentativa de desovar o produto e reduzir o prejuízo, vale usar a criatividade e “transformar os personagens”.
No Rei do Chocolate, no Centro da capital, se alguém estiver disposto a se fantasiar de político ainda tem disponível as máscaras do ex-senador Delcídio do Amaral, do ex-deputado Eduardo Cunha e do empresário Marcos Valério – condenado pelo STF como operador do esquema conhecido como mensalão. Mas no caso desse último, mais sucesso tem feito a versão “Chaves” – e não é a do ex-presidente da Venezuela, morto em 2013, mas do protagonista da série mexicana que rodou o mundo.
Alguns exemplares de Marcos Valério ganharam pintinhas no rosto e o boné de aviador que faz parte do figurino do personagem. Na época do Natal, a cabeleira branca de Delcídio ajudou na confecção de carinhas do Papai Noel para ornamentar a loja. “É uma forma de tentar vender o resto. Para este ano, nem fizemos novos pedidos”, conta Alexandre Carvalho, funcionário da loja.
Na Galeria do Ouvidor, a loja De Maria, especializada em fantasias e adereços para o carnaval, estava lotada no meio da tarde de ontem. Lá já estão empoeiradas, apesar de vendidas a apenas R$ 10, as máscaras dos ex-presidentes Dilma e Lula, do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, de Delcídio, de Cunha e até de Newton Ishi, o japonês da Polícia Federal – conhecido por sempre participar de operações que levaram políticos para a prisão.
“Estamos com a mesma caixa do ano passado.
Na Esquina das Festas, no Barro Preto, o proprietário Jailson Vieira Lopes conseguiu vender todas as máscaras da ex-presidente Dilma durante a Copa do Mundo – período marcado por muitos protestos contra a petista. Depois disso, ele diz que até tentou comprar máscaras de políticos, mas não conseguiu fornecedores. “Ainda bem”, afirma Jailson. A única figura pública procurada para este carnaval foi a do presidente norte-americano Donald Trump. Que também não está à venda.
Marchinhas Se as carinhas deles estão em baixa, suas atitudes nada louváveis estão em alta. E servem de inspiração para as marchinhas de carnaval. Os políticos e a Operação Lava-Jato – que já se tornou a maior investigação em curso no Brasil contra a corrupção – são tema preferencial nas letras das músicas lançadas pelos blocos.
O presidente Michel Temer, por exemplo, é o personagem tema da marchinha Presidento Transilvânia, que se mudou para “uma capital onde o terreno é fértil para o mal”. O ritmo inicial é o da marcha fúnebre, e a letra diz que o presidente buscou no cemitério os integrantes de seu ministério. Na música, Dilma Rousseff é tratada como uma “vítima inocente”. “Difícil não temer, o terror está no ar”, “vai buscar alho”, recomenda a música.
A marchinha Caviar, de Zeca Pagodinho, ganhou a versão Você sabe o que é Häagen-Dazs. A letra é uma crítica à licitação aberta pelo Planalto para a compra de alimentos para o avião presidencial.
O prefeito de São Paulo, João Doria, virou tema de Pinto por cima, que aborda a polêmica decisão de apagar painéis de grafite espalhados pela cidade. O uso de uniforme de gari para promover programas de governo também foi ironizado. “De fantasia para dar mais ibope/Pouso pra foto e pinto por cima”.
O juiz federal Sérgio Moro – responsável pela condução da Lava-Jato – também foi alvo de piada: “Companheiro, o que foi que eu fiz/Pra cair na vara desse juiz”, diz a letra da marchinha. O ex-presidente Lula é o personagem de Corre que a polícia vem aí, em que o cantor imita a voz do petista ao dizer “fugir or not fugir”. Já Hotel Bangu faz uma homenagem a Cláudia Cruz, mulher de Eduardo Cunha, ao empresário Eike Batista e ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral, os dois últimos presos em Bangu, acusados de corrupção..