No centro das operações da Polícia Federal nas últimas semanas, os peemedebistas do Senado Federal preferem dividir o cacife político e as propinas com quem tem o mesmo sangue. O ex-presidente do Senado Federal Renan Calheiros (PMDB-AL) usou a campanha de Renan Filho (PMDB) ao governo de Alagoas para lavar dinheiro. O pagamento por ter atuado em favor de empreiteiras no Legislativo teria sido feito através doações de eleitorais, segundo duas delações premiadas. Em uma delas, o ex-presidente da UTC Engenharia Ricardo Pessoa garante que a doação de R$ 1 milhão em 2014 para o postulante ao Executivo alagoano se tratava, na verdade, de propina para o então presidente do Senado. Em outra, Cláudio Melo Filho, ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht, deu um relato similar sobre o repasse de R$ 1,52 milhão quando Renan Filho disputava o governo do estado.
Na família Sarney, o modus operandi era parecido. Sérgio Machado, que comandava a Transpetro, importante subsidiária da Petrobrás, informou, em delação, que teria operado para o ex-presidente da República e ex-senador José Sarney receber R$ 18 milhões em propina.
Outro integrante da alta cúpula do PMDB no Senado é investigado ao lado dos dois filhos: Edison Lobão (PMDB-MA), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Um deles, Márcio, foi alvo da Operação Leviatã há duas semanas. Presidente da Brasilcap, braço do Banco do Brasil na área de títulos de capitalização, ele é suspeito de ter se beneficiado de parte do desvio de 1% da construção da Usina Hidrelétrica de Belomonte.
A casa dele e a sede da Brasilcap foram alvo de busca e apreensão. A PF encontrou, na residência, R$ 40 mil em várias moedas e 1.200 obras de arte. O irmão de Márcio, Edison Lobão Filho, que era suplente do pai e assumiu o assento no Senado quando Lobão foi ministro de Minas e Energia, é suspeito de ter recebido pagamento ilegal do Grupo Bertin, envolvido no suposto esquema de financiamento ilegal do PT operado pelo pecuarista José Carlos Bumlai.
PROPINA Os esquemas em família não são exclusividade dos peemedebistas. O ex-ministro-chefe da Casa Civil do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, José Dirceu, que está preso, teria usado a campanha do filho Zeca Dirceu a deputado federal pelo Paraná em 2010 para esquentar recursos desviados da Petrobras. O esquema envolveria a empresa Hope Recursos Humanos, que tem contratos milionários com a estatal. Segundo inquérito da PF, “doações eleitorais para a campanha de Zeca foram originárias dos ajustes espúrios envolvendo as contratações direcionadas à Hope com a Petrobras e que se revelaram como um meio de branquear a propina decorrente desse esquema”.
O caçula de Lula é réu em outra operação da PF, a Zelotes. Luiz Cláudio, o Lulinha, prestou uma consultoria por R$ 2,5 milhões para uma empresa que participava de um esquema de compra de medidas provisórias para favorecer montadoras de veículos com incentivos fiscais. A suspeita da PF surgiu porque o trabalho prestado foram de “meras reproduções de conteúdos disponíveis na rede mundial de computadores”.
Assim como Lobão, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha também usou os parentes para manter conta bancária na Suíça com verba da corrupção. A filha dele, Danielle, e a mulher, Cláudia Cruz, são investigadas por isso.
O professor de ciência política João Paulo Peixoto acredita que a existência de famílias que perduram no poder por muitos anos é um reflexo do “subdesenvolvimento político que vive o Brasil”. “Isso acontece geralmente no Nordeste. As famílias têm uma força econômica e política muito grande e o pai passa esse poder para os herdeiros”, explica.
Por meio de nota, a Hope nega qualquer envolvimento em irregularidades.