Brasília – O diretor de Infraestrutura da Odebrecht, Benedicto Barbosa Júnior, o BJ, disse em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na quinta-feira, que a empreiteira havia reservado R$ 200 milhões para doações eleitorais em 2014, entre repasses legais feitos em nome da empresa, por intermédio de terceiros e por meio de caixa 2. O depoimento foi tomado pelo ministro do TSE Herman Benjamin, relator da ação, movida pelo PSDB, que investiga irregularidades na campanha da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer.
De acordo com Barbosa, os R$ 200 milhões foram efetivamente gastos com campanhas. Segundo ele, desse valor, R$ 120 milhões foram pagos por meio de doações legalmente registradas em nome da Odebrecht. Outros R$ 40 milhões foram repassados por meio da cervejaria Itaipava, prática que é chamada de doação por terceiros, e os R$ 40 milhões restantes foram pagos via caixa 2, sem registro oficial. O executivo foi explícito quanto a origem desses recursos: todos seriam provenientes do “Departamento de Operações Estruturadas” da Odebrecht, área da empresa responsável pelo pagamento de propinas.
O empresário disse que “todos os grandes partidos” receberam dinheiro legal e por meio de caixa 2 da Odebrecht e subsidiárias. Benedicto Júnior detalhou que o valor de cerca de R$ 200 milhões foi definido numa reunião entre Marcelo Odebrecht e executivos da companhia. Desse total, 60% (R$ 120 milhões) saíram da construtora; de 20 % a 25% (de R$ 40 milhões a R$ 50 milhões) de empresas terceirizadas ligadas a Odebrecht; e de 15% a 20% (R$ de 30 milhões a R$ 40 milhões) por meio de caixa 2.
Como o foco do depoimento de Benedicto Júnior ao TSE é a chapa Dilma-Temer, que está sob investigação da Justiça Eleitoral, o relato envolvendo o PSDB durou menos de um minuto, afirmou ao jornal O Globo uma fonte que acompanhou a oitiva.
Benedicto Júnior disse, segundo relato de uma pessoa que acompanhou o depoimento, que não poderia ajudar em mais detalhes envolvendo as campanhas presidenciais por dois motivos – o primeiro, porque os grandes candidatos eram atendidos por Marcelo Odebrecht, dono da empresa; o segundo, porque não acompanhou os desdobramentos das negociações por alguns períodos já que sua mulher estava tratando um câncer em 2014.
O ex-executivo disse que usava as empresas do Grupo Petrópolis porque o grupo Odebrecht não queria ser listado como a maior doadora a políticos. Já Marcelo Odebrecht afirmou que “usava muito” a Itaipava para fazer doações eleitorais sem que o nome da empreiteira se tornasse público e, depois, “procurava um jeito” de reembolsar a cervejaria. Em março do ano passado, foram encontradas planilhas na casa de BJ que mostravam a ligação da empreiteira com a cervejaria. A Itaipava tem afirmado que “todas as doações feitas pelo Grupo Petrópolis seguiram estritamente a legislação eleitoral e estão registradas”.
A colheita de depoimentos de delatores da Odebrecht, determinada pelo relator Herman Benjamin, continua na próxima semana. Na segunda-feira, outros três ex-executivos serão ouvidos.