Movimento LGBT grita por Justiça

Manifestação em Fortaleza pede a punição dos assassinos da travesti Dandara Kataryne, que foi espancada, carregada num carrinho de construção e depois executada a tiros

Flávia Ayer Enviada especial


Fortaleza – Em frente ao cortejo, um carrinho de mão coberto por bandeiras do movimento de travestis e transexuais lembrava o crime bárbaro contra a travesti Dandara Kataryne, de 42 anos, em Fortaleza.

Ela foi espancada e levada, num carrinho de construção, para ser executada a tiros. O vídeo com imagens do linchamento repercutiu no mundo inteiro. Ontem, num ato público por justiça e contra a transfobia na capital cearense, militantes e parentes de vítimas do preconceito reivindicaram a garantia de direitos de pessoas LGBT – lésbicas, gays, travestis e transexuais.

Batizado de Chega de Lero Lero, o protesto também contou com a divulgação de carta aberta ao governador do estado, Camilo Santana. “Chega de lero lero. Não queremos mais ações pontuais LGBT. Queremos que tenham direitos respeitados. Dandara é somente mais uma travesti assassinada.

Existem muitas Dandaras”, reforça o coordenador de projetos do Grupo de Resistência Asa Branca, referência na defesa dos direitos LGBT, Dário Bezerra.

Entidades da sociedade civil participantes do ato, que reuniu cerca de 200 pessoas, também pedem a punição dos assassinos de Dandara. Outra reivindicação é a inclusão nos planos e iniciativas da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social acolhimento e resposta ágil em crimes contra essa população. Além disso, eles querem a efetivação do plano estadual de políticas públicas para essa população e a criação do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos humanos LGBT.

“Não há nosso reconhecimento como sujeitos de direito e não conseguimos acessar as políticas públicas”, reforça Dário. Já a presidente da Associação de Travestis do Ceará, Tina Rodrigues, acredita ser a hora da mudança. “Estamos cansadas de ser massacradas”, afirma. Para ela, a morte de Dandara representa um momento marcante para lutar contra a transfobia. Com a foto da filha estampada na camiseta, a mãe de Dandara, Francisca Vasconcelos, espera que isso leve a uma melhoria. “Espero que dê um basta no preconceito”, diz.

A cabeleireira Andriana Matarazzo, mulher trans de 37, é militante do movimento na Paraíba e fez questão de comparecer ao ato. Foi ela quem comprou o carrinho de mão usado para simbolizar o crime brutal cometido contra Dandara. “Eu também já fui agredida. Skinheads me bateram em Curitiba. Mas não é só a agressão física que sofremos. Somos motivo de chacota, de piada”, lamenta.

Dandara morreu em 15 de fevereiro, no Bairro Bom Jardim.

A repercussão do caso ocorreu no início do mês, depois de o vídeo que mostra as agressões ter sido compartilhado nas redes sociais. O ato de ontem também fez menção a Érica, que foi jogada de cima de um viaduto, também em Fortaleza. Ela ainda se encontra hospitalizada.

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