O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou nesta terça-feira ante a Justiça Federal em Brasília ter tentado obstruir as investigações do Petrolão e denunciou ser vítima de um massacre da mídia, que, segundo seus partidários, tenta impedi-lo de se candidatar em 2018.
O depoimento de Lula acontece em um momento de grande tensão em Brasília, onde se espera a divulgação por parte do Procurador-Geral Rodrigo Janot da lista de nomes revelados pelas delações de ex-executivos da construtora Odebrecht.
O líder histórico do PT chegou para depor pouco antes das dez da manhã e foi recebido por alguns poucos simpatizantes. O depoimento durou cerca de uma hora e ele foi embora sem dar declarações à imprensa.
Este processo, um dos cinco de que é réu, foi aberto em julho passado, depois que o ex-senador Delcídio do Amaral, do próprio PT, envolveu Lula em um plano para comprar o silêncio do ex-diretor da área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, que estava prestes a assinar um acordo de delação premiada sobre o esquema de subornos da estatal.
Segundo a acusação, ele teria atuado em cumplicidade com o banqueiro André Esteves (ex-presidente do BTG Pactual), o empresário e amigo de Lula, José Carlos Bumlai, e o próprio Amaral.
Mas Lula, 71 anos, nega todas as acusações que pesam contra ele.
"Nunca tive nenhuma preocupação com depoimento de nenhum empresário nem nenhum diretor da Petrobras", afirmou Lula.
"O Delcídio contou uma inverdade nesse processo", enfatizou.
- 'Masacre' da imprensa -
Em seu depoimento ao juiz Ricardo Leite, Lula se identificou como torneiro mecânico de profissão e se disse vítima de "um quase massacre" da imprensa, onde aparecem constantes insinuações de supostas delações de empresários ou políticos.
"Há mais ou menos três anos tenho sido vítima de um quase massacre. Todos aqui têm a dimensão do que é um cidadão que foi presidente da República, que foi considerado o mais importante presidente da história desse país, que saiu com 87% de aprovação, que fez com que o Brasil fosse respeitado no mundo inteiro (...) ser pego de surpresa por uma manchete de jornal, por uma notícia na televisão, todo santo dia (...) de que tal empresário vai prestar uma delação e vai acusar o Lula?", queixou-se.
As delações dos 78 executivos da Odebrecht ameaçam levar para a prisão inúmeros políticos e pode ainda anular o resultado da reeleição em 2014 da presidente Dilma Rousseff e seu então vice, Michel Temer, que a sucedeu depois do processo de impeachment por causa das pedaladas fiscais.
Lula enfrenta cinco processos em tribunais de Brasília e Curitiba por corrupção, lavagem de dinheiro e tráfico de influências.
Em 3 de maio deve comparecer ante o juiz Sergio Moro, que coordena a operação "Java Jato".
- Líder nas pesquisas -
Apesar de todas as acusações que pesam contra ele, o ex-metalúrgico lidera as intenções de voto para 2018. Mais de 30% dos brasileiros afirmaram em uma pesquisa recente que votariam nele para ser presidente de novo.
Esse é o caso do engenheiro agrônomo Vinicius Silva, de 54 anos, que estava na porta do tribunal para manifestar seu apoio a quem considerada capaz de reunir a melhor equipe para "reconstruir o país".
"Ele é uma pessoa simples, uma pessoa popular. O que o Lula fala são coisas que ele vive, é diferente de outros politicos aqui no Brasil, que sao ligados a setores mais poderosos da elite; eles falam, mas nao falam aquilo que eles vivem. Então o povo percebe", afirmou à AFP.