O ritmo lento nas votações da Câmara Municipal de Belo Horizonte contrasta com o clima agitado nas relações entre os vereadores. Ontem, novo embate com trocas de ofensas e acusações marcou a sessão da Casa.
Após o vereador Gilson Reis (PCdoB) fazer um discurso analisando o cenário político nacional, Jair di Gregório (PP) subiu o tom da discussão e afirmou que Reis estava “desrespeitando os evangélicos” ao criticar a bancada de religiosos em Brasília.
“O senhor é um pavão. Tem que lavar a sua boca para falar de evangélicos. Não venha tachar ninguém de homofóbico. Nós temos o direito de não querer ser gay. E temos o direito de não querer que esse tipo de ideologia seja ensinada em nossas escolas”, afirmou Jair di Gregório.
Gilson Reis rebateu ameaçando que, caso o parlamentar partisse para “baixar o nível” ele saberia responder da mesma maneira. O vereador afirmou que não teve como objetivo ofender evangélicos.
“Tem vereador que precisa aprender a se comportar no parlamento. Se continuar assim a situação vai ficar complexa nessa Casa. Se vossa excelência é evangélico, católico ou espírita pouco me importa. Vivemos em um país que preza pela livre orientação religiosa”, respondeu Reis.
O clima quente foi interrompido pelo presidente da Câmara, vereador Henrique Braga (PSDB), que deu uma bronca nos parlamentares. “Essa discussão está envergonhando nosso Parlamento.
O regimento prevê que praticar ofensas físicas ou morais ou desacatar por meio de palavras é completamente censurado pela mesa. Não vou admitir que nenhum vereador continue atingindo o outro dessa forma”, disse Braga.
Outros vereadores colocaram pano quente na briga e lamentaram a recorrência das agressões pessoais na Casa. “Quando é que vamos perceber que isso aqui não é rinha de galo. Não estamos aqui para ficar nos agredindo com chacotas e ridicularizações de criança mimada”, disparou Mateus Simões (Novo).
Após quase duas horas de “pinga fogo”, em que as críticas a nomeações supostamente políticas feitas pela prefeitura voltaram a se repetir, os parlamentares votaram dois vetos do Poder Executivo.
Articulação indefinida
Um mês após Gilson Reis entregar o cargo de líder de governo na Câmara para o prefeito Alexandre Kalil (PHS), a relação entre os poderes Executivo e Legislativo na capital mineira segue indefinida e conturbada.
O prefeito tem dificuldade em conseguir maioria no plenário e por isso não consegue limpar a pauta de votações, que tem vários vetos impedindo que outros projetos sejam apreciados.
“O prefeito segue sem um líder na Casa até hoje e parece não estar muito preocupado com isso. Vamos votando entre dois e três vetos por dia. Parece que tanto vereadores quanto o prefeito ainda estão se estudando”, analisou Pedro Patrus (PT).
O vereador Irlan Melo (PR), diz manter uma boa relação com Kalil, mas afirma que a situação na Câmara segue uma incógnita: “Tenho ótima relação com o prefeito, sempre atencioso com minhas demandas, mas não existe uma base da prefeitura na Câmara”, diz.
Os dois mais cotados para assumir a liderança de governo na Câmara, vereadores Léo Burguês (PSL) e Juliano Lopes (PTC) afirmam que não houve qualquer conversa com a prefeitura e que a situação permanece indefinida.
“Não fui sequer sondado pela prefeitura. Fui com o prefeito na Região do Barreiro em uma agenda oficial, mas não tivemos conversas sobre a relação com a Câmara. A prefeitura está tendo alguns vetos derrubados e outros mantidos, ainda não tem uma base formada”, diz Lopes.
Ontem, apenas dois vetos foram votados pelos vereadores. O veto ao texto que previa a permissão de atividades de comércio móvel de alimentos e bebidas – ou seja, venda de alimentos e bebidas em bicicletas – foi mantido. Mesmo com 18 vereadores votando pela derrubada e apenas 8 pela manutenção do veto, era preciso metade dos 41 votos para rejeitar a posição de Kalil.
O segundo veto do prefeito, no entanto, não sobreviveu ao plenário. O projeto que obriga a PBH a divulgar a localização dos radares de fiscalização de velocidade nas ruas da capital ganhou apoio de 30 vereadores e apenas sete defenderam a posição do Executivo.
Cotado para a liderança de governo, Burguês tem sido o principal articulador na defesa dos vetos de Kalil na Câmara. Procurados pela reportagem, o prefeito e o secretário de governo, vice-prefeito Paulo Lamac (Rede), não comentaram a relação com o Legislativo.