"Era aceitar ou não. Já vinha tudo acertado, como a porcentagem de participação de cada empresa do consórcio", disse o executivo. "A gente não discutia. Era uma coisa imposta. A gente só dizia se iria participar: sim ou não", completou.
A declaração foi feita durante depoimento à 7ª Vara Federal Criminal no Rio. O executivo também contou que as reuniões com as empresas que participariam das obras eram individuais.
Questionado pelo procurador Leonardo de Freitas, Quintaes confirmou que o edital técnico era montado com as empresas que participariam do esquema. O objetivo era dificultar que qualquer outra construtora que se candidatasse para concorrer a licitação ganhasse a obra.
Segundo os funcionários da Andrade, em 2007 foi acertado com Cabral que a empresa lhe repassaria R$ 350 mil por mês. A mesada foi fornecida por cerca de um ano, até que a Andrade ganhasse obras do governo estadual e acertasse 5% de propina sobre o valor de cada contrato.
Quintaes contou que o dinheiro da propina era entregue por ele a um operador de Cabral, Carlos Miranda.
"Todo mês, ele me procurava pessoalmente, e a gente pagava a ele no escritório da Andrade no Rio ou em São Paulo. Acho que teve alguma vez em Minas Gerais. Também teve um pagamento em um escritório no Leblon e algumas vezes na rua", relatou o empresário.
O superintendente da Andrade também afirmou que não sabia como a empresa produzia o dinheiro da propina. "O financeiro da empresa só me dava a quantia, e eu entregava para Carlos Miranda, que ia lá pegar. Era simples", declarou.
O executivo disse ainda que teve o conhecimento que pelo menos três obras foram executadas nesse esquema: o PAC das Favelas de Manguinhos, a reforma do Maracanã para os Jogos Pan-Americanos e para a Copa de 2014. A empresa chegou a acertar o esquema para as obras do Arco Metropolitano, mas desistiu.
Quintaes não faz acordo de colaboração com o Ministério Público Federal (MPF). Mas presta depoimentos para a Justiça devido ao acordo de leniência feito com a Andrade Gutierrez, da qual ainda é funcionário.
A reportagem procurou o advogado de Cabral, Luciano Saldanha Coelho, mas não teve resposta..