Além da possibilidade de serem investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), outra preocupação tem tirado o sossego de parlamentares: o prejuízo político de ter o nome na temida lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Por causa da morosidade do STF em investigar e julgar denúncias — segundo levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV), o trâmite na corte leva em média 1,2 mil dias —, a mera citação representa uma condenação. Nos corredores, deputados e senadores brincam apreensivos, que, hoje em dia, é mais feio ser citado do que ser condenado.
Mais de 100 políticos estariam nos 83 pedidos de abertura de inquérito enviados pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao ministro-relator da Lava-Jato no STF, Edson Fachin. Da primeira lista, enviada ao Supremo em março de 2015, com pedido de abertura de 28 inquéritos, envolvendo o nome de 49 políticos, só cinco viraram réus. Nenhum foi condenado até agora. A previsão é de que os processos da nova relação estejam prontos para ser julgados entre 2023 e 2024.
Na opinião do diretor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (Ipol-UnB), Paulo Calmon, o fato de estar relacionado em uma lista dessas tem uma carga emocional que afeta a credibilidade e deixa marcas na reputação de lideranças políticas. “É um selo que cria incertezas e isso deixa a reputação do partido abalada. Aumenta a dificuldade e capacidade de agregação, a militância questiona, afeta a mobilização de correligionários junto às bases eleitorais, aos financiadores de campanha. É a depreciação do capital político desse líder”, comenta.
O consultor de comunicação e marketing digital Marcelo Vitorino acrescenta os prejuízos a longo prazo por causa da velocidade da proliferação de notícias na internet. “Antes, as denúncias caíam no esquecimento. O boca a boca durava pouco. Hoje em dia, o dano à imagem vira eterno, é atemporal. Por mais que ele seja inocentado, uma simples busca no Google revive todo esse histórico.” O especialista atribui três fatores que contribuem para aumentar o desgaste: a velocidade de consumo de conteúdo da população; a internet, que mantém a informação — nem sempre completa — disponível; e os adversários políticos, que usarão a dúvida sobre a honestidade do concorrente para atingi-lo.
Demora
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) destaca que um dos principais problemas é a demora na qual o processo é caminha. “É um prejuízo enorme porque leva anos para se esclarecer aquela denúncia. É lógico, quem não tiver culpa no cartório pode tentar amenizar a situação esclarecendo os fatos, pedindo celeridade nas investigações, autorizando a quebra dos sigilos bancário e telefônico. Por isso, a importância de acabar com o foro privilegiado. Assim, tudo seria mais rápido”, sugere.
Dono da Gol cita propina a Cunha
Brasília - O empresário Henrique Constantino, acionista da Gol Linhas Aéreas, confirmou a procuradores da Lava-Jato ter feito pagamentos para o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e ao corretor Lúcio Funaro, ambos presos, em troca de apoio na liberação de valores do fundo de investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Ainda segundo Constantino, o ex-ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) teria participado da reunião em que os pagamentos foram definidos.
As informações foram dadas pelo empresário no âmbito da negociação de um acordo de colaboração com os investigadores de Curitiba e Brasília. Constantino procurou as autoridades após aparecer nas operações Sépsis e Cui Bono? e ser citado no pedido de prisão de Eduardo Cunha. Como a Gol Linhas Aéreas assinou um acordo de leniência e assumiu os crimes praticados pela empresa, agora o empresário pretende se livrar na pessoa física de problemas na Justiça. Na leniência, a Gol se comprometeu a pagar R$ 5,5 milhões para reparação pública, R$ 5,5 milhões como multa e mais R$ 1 milhão pela condenação.
Constantino afirmou que os pagamentos efetuados às empresas do corretor Lúcio Bolonha Funaro e diretamente às firmas da família de Cunha tinham como objetivo facilitar a liberação de valores do FGTS. A versão coincide com a do ex-vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa Fabio Cleto. Em delação, Cleto assumiu ter recebido propina para liberar um aporte de R$ 300 milhões do FI-FGTS para a ViaRondon, empresa da família Constantino. Por meio de sua assessoria de imprensa, o empresário Henrique Constantino disse apenas que está à disposição das autoridades