Obra no Rio São Francisco vira guerra entre Lula, Dilma e Temer

Maior obra para levar água ao sertão nordestino deve custar mais de R$ 10 bilhões até 2026 e se transforma em guerra aberta pela paternidade do projeto no Rio São Francisco. Lula e Dilma "reinauguraram" um dos trechos, onde Temer esteve há 9 dias

Vera Batista Renato Souza - Especial para o EM
Dilma e Lula em Monteiro, na Paraíba: em ritmo de campanha - Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Parte das obras da Transposição do Rio São Francisco, do eixo Leste, foi inaugurada. A partir de agora, estão em jogo os desafios da solução para a seca do Nordeste. O projeto completo foi dividido em dois eixos.

O Norte, com percurso de aproximadamente 400km, tem ponto de captação próximo a Cabrobó, Pernambuco, e transportará as águas aos rios Salgado e Jaguaribe, para os sertões de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte.

No Leste, com 220km, as águas da barragem de Itaparica, no município de Floresta, Pernambuco, alcançarão o rio Paraíba e abastecerão parte do sertão e as regiões do agreste de Pernambuco e da Paraíba.

A expectativa é de que 12 milhões de pessoas serão beneficiadas quando todo o projeto estiver em funcionamento. Somente o trecho Leste, agora concluído, deve atingir 168 municípios da Paraíba e de Pernambuco e vai permitir que 4,5 milhões de nordestinos tenham acesso à água potável.

Temer cumprimenta funcionários, durante a inauguração: paternidade é de quem paga impostos - Foto: Beto Barata/PR - 10/3/17A previsão inicial, no início do governo Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, era de que a transposição fosse concluída em 2012, depois adiada para 2015. Mas as obras só começaram em 2007. Quem inaugurou, portanto, a construção, foi o presidente Michel Temer, no último dia 10, que, inclusive, prometeu finalizar o projeto até o fim do ano.

De acordo com o Palácio do Planalto, somente nos últimos 10 meses, foram injetados R$ 602 milhões no andamento das obras e, por isso, o trecho norte já está com 94,52% das obras concluídas. Nove dias após Michel Temer celebrar a conclusão do eixo Leste, os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff fizeram, ontem, uma reinauguração das mesmas obras.

O evento, além de várias autoridades do PT e de seus aliados, contou também com a presença do ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), que foi ministro de Integração, há 10 anos, quando Lula tirou o projeto quase bicentenário do papel.

Esse trecho da obra, de mais de 400km, custou, até o momento, R$ 8,2 bilhões. Disputa no sertão Após uma carreata de 170km, que partiu de Campina Grande, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff chegaram a Monteiro (PB), às 14h.

Em meio a gritos de “Lula, guerreiro, do povo brasileiro”, o ex-presidente reivindicou a autoria da obra para sua gestão e de sua sucessora.
“Somos pai, mãe, irmão, tio e sobrinho da transposição das águas do Rio São Francisco. Eu considero a transposição a obra mais importante do país, que vai beneficiar mais de 12 milhões de pessoas”, ressaltou.

Dilma, que foi a primeira a falar à multidão, deu o tom político ao evento e deixou claro que Lula voltará em 2018. Ela chamou de “mentira” a inauguração feita em 10 de março pelo presidente Michel Temer e destacou: “Vamos nos encontrar na eleição direta de 2018”.

“Estamos vivendo um momento muito difícil no nosso país. São mentiras sistemáticas por alguém que nunca levantou um dedo pela transposição e agora vem aqui dizer que foi ele quem fez”, declarou Dilma, que também fez críticas à reforma da Previdência.

No dia em que esteve na Paraíba, o presidente Michel Temer disse que não disputa a paternidade da obra. “Eu não quero a paternidade desta obra. Ninguém pode tê-la”, disse ele. “A paternidade é do povo brasileiro e do povo nordestino. Vocês que pagaram impostos ao longo do tempo, vocês que permitiram que pudéssemos fazer grandes investimentos nessa obra, que, cada vez mais, está sendo festejada”, disse o presidente.

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