Após a perplexidade gerada na população com a deflagração da Operação Carne Fraca, na sexta-feira (17), anunciada como a maior força-tarefa da Polícia Federal, o governo do presidente Michel Temer (PMDB) tenta minimizar os efeitos da ação da PF.
Passado o estardalhaço da operação na sexta-feira, as divergências entre a PF e o governo federal ficaram explícitas.
Basta lembrar a primeira reação do governo, por meio da declaração do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, que estava de licença do cargo quando a operação foi deflagrada.
Na sexta-feira, ele disse que as denúncias eram "um crime contra a população". Ele afirmou, também na sexta-feira, que as investigações deveriam seguir "com todo rigor" para punir os responsáveis.
Nesse domingo, o tom foi mais ameno e a divergência entre o governo e a PF ficou explícita. O ministro disse que não iria "bater boca" com a PF ao explicar que, se o Ministério da Agricultura tivesse sido avisado com antecedência sobre a operação em curso, teria esclarecido pontos considerados irregulares pela Polícia Federal.
"Em função da narrativa (da PF) é que se criou grande parte dos problemas que temos hoje", reclamou o ministro. Para em seguida acrescentar: "É uma idiotice. As empresas gastaram milhões de dólares para conquistar mercados, e vão misturar papelão?".
Esforço
O esforço do Planalto é tranquilizar a população e, principalmente, estancar a sangria que compromete a combalida economia nacional. Além do mercado interno, a exportação do setor no ano passado gerou US$ 14 bilhões, algo em torno de R$ 42 bilhões.
O primeiro reflexo veio nesta segunda-feira, no Diário Oficial da União. O Ministério da Agricultura exonerou Gil Bueno de Magalhães e Júlio César Carneiro dos cargos de superintendente federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento que ocupavam nos Estados do Paraná e de Goiás, respectivamente.
Tiro pela culatra
Nesse domingo (19), Temer se reuniu com representantes dos frigoríficos, no Palácio do Planalto, e anunciou uma força-tarefa para fiscalizar a inspeção das carnes para consumo interno e externo.
Em seguida, convidou embaixadores - diante da cobrança dos países que importam a carne brasileira-, para um churrasco em um restaurante de Brasília.
A iniciativa acabou não surtindo o efeito esperado. O churrasco servido, de acordo com o restaurante escolhido, só serve cortes vindos da Austrália e do Uruguai.
A assessoria do Planalto reagiu afirmando que a carne servida a Temer e seus convidados eram de origem nacional.
Sob suspeita
Também nesta segunda-feira, veio à tona a informação que em dois anos de investigações da Polícia Federal fez perícia em carnes de apenas um frigorífico.
O alvo teria sido a Peccin Agro Industrial, em Curitiba, no Paraná. A empresa nega irregularidades apontadas pela PF.
De acordo com a corporação, foram encontradas carnes estragadas na composição de salsichas e linguiças, falta de rotulagem e refrigeração.
No relatório da PF, que justificou a deflagração da operação, consta denúncia de pagamento de propina a funcionários do Ministério da Agricultura, em troca de arrefecimento na fiscalização dos frigoríficos.
Na lista de empresas suspeitas, a PF relacionou 22 empresas - entre elas marcadas conhecidas, Sadia, Perdigão e Chester, do grupo BRF e Friboi, Seara, Big Frango, Swift e Maturatt, do Grupo JBS. Todas negaram irregularidades.
Falta transparência
O fiscal agropecuário federal Daniel Gouvêa Teixeira, que denunciou irregularidades na Superintendência Federal de Agricultura do Paraná, órgão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, afirmou que falta “transparência” e “fiscalização” na cadeia de produção de carne brasileira.
Desconfiança
No primeiro fim de semana pós a deflagração da Operação Carne Fraca, donos de restaurantes e garçons precisaram de muita paciência para esclarecer dúvidas dos clientes a respeito da carne que iria ser consumida.
O em.com.br foi a alguns restaurantes da Região Centro-Sul da capital, nesse domingo (19), e constatou que, apesar da desconfiança, muitos se renderam ao apelo da carne.