Partido repartido

PMDB mineiro enfrenta disputa interna de olho na campanha de 2018

Partido foi a terceira maior força de Minas em número de votos nas duas últimas eleições

Alessandra Mello

Uma das maiores forças políticas do estado em termos de voto, capilaridade e número de eleitos está dividida.

O PMDB mineiro hoje são dois. De um lado, o grupo liderado pelo vice-governador Antônio Andrade, rompido com o governador Fernando Pimentel (PT). Do outro, o presidente da Assembleia Legislativa, Adalclever Lopes, aliado de primeira hora de Pimentel. No meio, parlamentares e caciques da legenda se movimentam de acordo com seus interesses e de suas bases, mas tendo como norte, na maioria das vezes, a caneta do governador.

Em outubro, o partido renova seu comando e a disputa vai opor novamente Andrade, que comanda a legenda no estado desde 2009, e Adalclever. Internamente, a aposta é que o grupo do presidente da Assembleia saia vitorioso nesse embate. Um dos motivos é o alinhamento da bancada estadual e da dos federais com o projeto do governador e de Adalclever, que sonha com a cadeira de Andrade em uma provável candidatura de Pimentel à reeleição. Em Minas, o PMDB elegeu 167 prefeitos, 118 vice-prefeitos, 1.060 vereadores e 13 deputados estaduais, o que mostra sua força e a ramificação.


Já antevendo dificuldades para se manter no comando, Andrade, cada dia mais isolado dentro da legenda, busca apoio da direção nacional para que a disputa seja adiada e ele permaneça no cargo. No ano passado, no auge da tensão entre governador e vice, Pimentel começou a reduzir o espaço de Andrade no governo.

 Um dos limados foi seu afilhado político Mateus Gomes, que era vice-presidente da Cemig, substituído por Paulo Castellari, executivo do setor de mineração, cujo padrinho é Adalclever Lopes. Logo depois foi a vez da exoneração de João Cruz Reis Filho, também ligado a Andrade, deixar o cargo de secretário da Agricultura. Em seu lugar foi estrategicamente nomeado Thiago Cota, hoje no PMDB, mas eleito pelo PPS. Cota, que por problemas familiares nem chegou a ocupar a pasta de verdade, foi escolhido a dedo para impedir que o suplente João Alberto Lage (PMDB), do grupo de Andrade, assumisse uma vaga na Assembleia caso o escolhido fosse alguém eleito pelo PMDB. Para o lugar de Cota foi indicado Pedro Cláudio Coutinho Leitão, ligada ao grupo de Adalclever.

 Enquanto o vice vai sendo emparedado, Adalclever se movimenta para garantir sua eleição para o comando do PMDB mineiro e, caso a candidatura de Pimentel não seja viabilizada, ser o candidato do partido ao governo do estado. Mas por enquanto, o governador e as bancadas estão no maior amor. E não é para menos. O PMDB tem quatro secretarias importantes no governo, entre elas uma das mais cobiçadas, a da Saúde, e muitos cargos relevantes no segundo escalão. E o governador, que pode precisar muito do PMDB caso a Assembleia tenha que se pronunciar sobre um possível afastamento do cargo, trata a ala aliada do partido a pão de ló. No começo deste mês, Pimentel, parte do seu secretariado e diversos prefeitos, deputados e lideranças partidárias do PMDB participaram de um almoço em homenagem a Adalclever oferecido pelo ex-governador Newton Cardoso (PMDB) em sua fazenda, em Pitangui.

 O presidente da Assembleia conta com o apoio do cacique peemedebista, que passou o bastão para o filho, deputado federal Newton Cardoso Júnior (PMDB), mas continua dando cartas dentro do partido. Nesse almoço, segundo revelou um dos participantes, um dos principais assuntos foi a disputa pelo comando da legenda e as eleições de 2018. Aos peemedebistas, Adalclever tem defendido fidelidade ao governador e a manutenção da dobradinha com o PT em 2018, desde 2006, quando as duas legendas disputaram juntas pela primeira vez o governo do estado.

Desde então, elas se revezam nessa aliança, a cada pleito com um partido na cabeça da chapa. Adalclever tem ainda o apoio de cinco dos seis deputados federais mineiros. Apenas Rodrigo Pacheco, terceiro colocado na disputa pela PBH e eleito recentemente presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, está com Andrade.

 Curiosamente, apesar de o partido ter estreitado os laços com o PT, em nível nacional, a legenda em Minas foi majoritariamente favorável ao afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff, que levou ao poder o peemedebista Michel Temer. Mas isso em nada estragou as relações com o governador e com o PT. Para o deputado Ivair Nogueira (PMDB), essa divisão dentro do partido é normal e “faz parte do jogo político”. “O importante é na hora certa todo mundo se juntar para vencer as eleições”, defende.

Coadjuvante Para o cientista político e professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV/EBAPE) Carlos Pereira, que elabora uma pesquisa sobre o PMDB e partidos com perfil semelhante na América Latina, a legenda é uma das mais exitosas da América Latina, sempre atuando na zona de conforto ao lado de governos vitoriosos nas urnas. Segundo ele, desde 1994, data da primeira eleição direta após o fim da ditadura, o partido tem se caracterizado como uma legenda coadjuvante, mas fundamental para os governos de coalizão. “Para que um partido cumpra esse papel coadjuvante, que é ultrarrelevante em um regime presidencialista multipartidário, é necessário que esse partido tenha algumas características: tenha distribuição no território nacional, ocupe uma parcela considerável de cadeiras na Câmara dos Deputados e no Senado, tenha posições ideológicas amorfas e mal definidas, seja formado por lideranças regionais diversas, e não apresente candidatos competitivos para a Presidência.” Caso, de acordo com ele, do PMDB.

Embora esse padrão tem sido mais comum na esfera federal, afirma Pereira, também é possível encontrar PMDBs coadjuvantes em muitos estados da federação. “Ou seja, o partido prefere permanecer na ‘zona de conforto’ do legislador mediano apoiando vencedores de matizes ideológicas distintas do que arriscar a ofertar candidatos majoritários perdedores”. De acordo com ele, contrariamente ao pensamento dominante que vê riscos em ser refém de partidos como o PMDB, o levantamento identificou que os custos de governabilidade são menores “quando tem na sua coalizão partidos grandes, amorfos e coadjuvantes”.

 

 

MEMÓRIA 

Aliado recorrente

Até 1979, o Brasil tinha dois partidos: Arena e MDB.

Mas com a instituição do pluripartidarismo houve uma reorganização das agremiações, nascendo, então, em 1980, o PMDB, cujo registro oficial foi obtido em 1981. Logo no ano seguinte, a legenda elegeu nove governadores. Em 1985, o partido, via eleição indireta feita pelo Congresso, elegeu Tancredo Neves presidente e José Sarney vice (foto). Com a morte inesperada de Tancredo, assume Sarney e a legenda se consolida como uma das mais importantes do país. O PMDB elegeu 22 governadores dos 23 cargos em disputa e conquistou quase a metade das cadeiras no Congresso em 1986, passando a liderar, por meio de um dos seus fundadores, o deputado federal Ulysses Guimarães, o processo de elaboração da nova Constituição. Apesar de toda essa força, a legenda nunca teve unidade para lançar um candidato forte à Presidência da República. Tentou com Ulysses (1989) e Orestes Quércia (1994), mas ambos tiveram baixo desempenho nas urnas. Com a eleição de Fernando Henrique, em 1994, o partido aderiu ao governo e, desde então, tem sido o balizador das coalizões presidenciais e também de muitas estaduais, independentemente da matriz política e ideológica de quem está no comando do Executivo. Ano passado, o partido chegou novamente ao poder de forma indireta, com o afastamento de Dilma Rousseff e a posse de seu vice, Michel Temer.

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