Investigações como a Carne Fraca e a Lava-Jato expõem brigas na PF

Júlia Chaib

Leandro Daiello, o diretor-geral: parte de delegados defende troca de comando - Foto: AFP / ANDRESSA ANHOLETE


Brasília – Além de ter gerado consequências sobre as exportações do Brasil, a Operação Carne Fraca escancarou atritos internos na Polícia Federal e entre órgãos de investigação. No mesmo dia da deflagração da ação policial, o governo passou a criticar a PF e a forma como a apuração foi divulgada. Na esteira das críticas, boa parte da classe política aproveitou para lançar ataques à Lava-Jato e articular a votação no Senado de uma medida polêmica: o projeto de lei de abuso de autoridade. As trocas de farpas, porém, ocorreram entre os próprios investigadores, que aproveitaram para reafirmar o discurso pela troca no comando do órgão, chefiado por Leandro Daiello desde 2011.

 

Ao longo da última semana, não faltaram críticas à divulgação da Operação Carne Fraca, ao que o governo atribuiu parte da culpa pela queda nas exportações. O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, disse que faltou “amparo técnico” da PF e que havia “idiotices” e “fantasias” nas informações divulgadas. Apesar de defenderem a investigação em si, o discurso do governo ganhou coro dentro da própria instituição, como entidades de classe da Polícia Federal.

 

 Na última semana, a Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) criticou abertamente um dos delegados da Carne Fraca, que também está à frente da Lava-Jato. “Maurício Moscardi, por exemplo, não tem a menor condição de ser apresentado como coordenador de qualquer operação”, afirmou o presidente da Fenapef, Luís Boudens. Ele criticou o tom “midiático” do delegado Maurício Moscardi na entrevista coletiva da operação.

E o presidente da Associação Nacional de Delegados Federais, Carlos Miguel Sobral, disse que houve um “erro” na divulgação.

 

MUDANÇA A briga interna na PF e as críticas a Moscardi, porém, vão além das polêmicas em torno da Carne Fraca. Delegados defendem abertamente a saída de Daiello. A insatisfação com o diretor-geral encontra críticas, inclusive, na forma como tem sido conduzida a Operação Lava-Jato na PF. Moscardi é visto como um homem ligado ao diretor-geral, e desde a chegada dele em Curitiba, outros cinco delegados da Lava-Jato deixaram a operação.

 Márcio Adriano Anselmo, foi o primeiro a sair da operação e alegou cansaço físico e emocional. Depois, deixaram os cargos os delegados Eduardo Mauat da Silva, Duílio Mocelin Cardoso, que não tiveram as missões renovadas, e Luciano Flores. A delegada Erika Marena, que deu nome à operação, foi a última a sair de Curitiba e passou a trabalhar em Santa Catarina.

 Embora nenhum deles tenha alegado problemas com a chefia, internamente, a saída dos investigadores da operação desde o princípio foi atribuída, em parte, a um mal-estar causado dentro da corporação após a chegada do delegado Moscardi. Em fevereiro, a Associação Nacional de Delegados Federais divulgou uma nota na qual defende a saída de Daiello e pede que seja levada em conta a lista tríplice, encabeçada pela delegada Erika Marena, seguida por Rodrigo Teixeira e Marcelo Freitas.

Na última semana, ao longo de um congresso organizado em Florianópolis, o desejo por mudanças na chefia foi renovado. Na avaliação dos policiais, Daiello não defende a instituição como deveria, além de não ter tocado projetos considerados essenciais. “A equipe da Lava-Jato acabou sendo trocada, substituída, oxigenada. Aqueles colegas que deram origem à Lava-Jato não estão mais lá. Foi cada um para outra unidade”, disse o presidente da Associação de Delegados da Polícia Federal (ADPF), Carlos Miguel Sobral. Apesar dos pedidos, inclusive da lista tríplice entregue ao presidente Michel Temer, não há perspectiva de troca no comando da PF.

 BRIGA COM MP Além das brigas internas, a Polícia Federal tem uma rixa histórica com o Ministério Público Federal (MPF). A reclamação, em várias esferas, se relaciona com a possibilidade de o MP promover investigações e o domínio sobre elas.

A entrega das denúncias em consequência das investigações à Justiça cabe ao Ministério Público e não à PF. Na última semana, o presidente da ADPF afirmou, por exemplo, que, no âmbito da Lava-Jato, o MP “ganhou o primeiro round” por ter feito uma boa ação de marketing, ao contrário da Polícia Federal.

 

 

 

 

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