Minas tem baixa presença feminina no Legislativo

Estudo que será lançado esta semana pelo Projeto Mulheres Inspiradoras revela que MG está entre os piores em ranking de representatividade. Melhor posição é um 14º lugar na Câmara

Isabella Souto
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A vantagem numérica sobre a população masculina em Minas Gerais não rendeu às mulheres a mesma proporção no Legislativo brasileiro. Apesar de elas serem 314 mil a mais que os homens, ainda amargam baixa votação nas urnas, o que coloca o estado nos últimos lugares do ranking de presença feminina nas câmaras municipais, assembleias legislativas, Câmara dos Deputados e Senado. É o que mostra levantamento realizado pelo Projeto Mulheres Inspiradoras (PMI) e que será lançado nesta semana.

 

Os eleitores mineiros elegeram nas últimas disputas (2014 e 2016) 931 mulheres para as quatro esferas do Legislativo, enquanto os homens conquistaram as outras 7.583 cadeiras disponíveis. O Senado, por exemplo, não tem nenhuma representante feminina de Minas. Em 2014, entre os oito candidatos que disputavam uma cadeira, duas eram mulheres: Margarida Vieira (PSB) e Graça (PCO). Juntas, elas tiveram apenas 2,22% dos votos válidos. Quem levou a melhor na disputa foi o ex-governador Antonio Anastasia (PSDB).

Na Câmara dos Deputados, apenas cinco das 190 candidatas conquistaram uma vaga entre as 53 disputadas, o que deu a Minas Gerais o 14º lugar no ranking em Brasília – a melhor colocação do estado entre todos os legislativos. O número equivale a um ínfimo índice de 0,15 deputada para cada 100 mil habitantes, ou 0,006 eleita por município.

O mesmo número de mulheres conquistou cadeiras na Assembleia Legislativa: apenas cinco das 321 candidatas foram eleitas em outubro de 2014.

Elas receberam, juntas, 8,21% dos votos válidos. E a proporção é ainda pior se compara com a Câmara dos Deputados, pois a sede do Legislativo estadual, localizada em Belo Horizonte, abriga 77 representantes. O baixo índice deixou Minas na 23ª colocação no país.

Minas Gerais também não ficou nada bem no ranking de vereadoras: a mesma 23ª colocação no comparativo com os outros 26 estados – no Distrito Federal não há câmara municipal. Em 2016, 7.364 mulheres tentaram se eleger nos 853 municípios mineiros, mas apenas 921 tiveram votos suficientes para conquistar uma das 8.481 cadeiras em todo o estado. A média é de 1,1 eleita por município. Lembrando que cada Câmara tem pelo menos nove vereadores, número que varia de acordo com a população.

ESTRATÉGIA PARA CRESCER Coordenadora do Projeto Mulheres Inspiradoras (PMI), Marlene Campos Machado diz que a baixa participação feminina na política não só em Minas, mas em todo o país, é uma questão estrutural e que merece maior destaque. “O que pode e deve ser feito de imediato é dar mais atenção ao tema e pensar: O que e quanto a sociedade tem a perder ao dificultar a atuação de metade de sua população (mulheres)? Produtividade, empregos, políticas públicas de mais qualidade? Eu apostaria em todas elas como opção”, diz. Para mudar o cenário, ela sugere debates de qualidade, sem fomentar divisões entre gêneros ou grupos de pessoas.

Na tentativa de aumentar a participação feminina na política, a legislação brasileira determina que 30% das candidaturas têm que ser de mulheres. Mas essa não parece ser uma solução eficaz. A primeira dificuldade que muitos partidos alegam é conseguir candidatas para cumprir a cota. Versão que Marlene Machado classifica de “pouco consistente”. “Será que essas lideranças não querem mesmo participar do processo político ou lhes falta um cenário adequado de oportunidades para tal? Eu voto na segunda”, afirma.

E muitos partidos, pela prática, mostram que inscrevem mulheres nas chapas proporcionais apenas para preencher a cota feminina. Basta ver o número daquelas que terminam a eleição sem um voto sequer.

Na disputa pela Assembleia Legislativa de Minas, por exemplo, oito candidatas não foram votadas. Outras 24 não chegaram a ter 10 votos.

 

Três perguntas para Marlene Campos Machado
coordenadora do Projeto Mulheres Inspiradoras

 

Por que um número tão pequeno de mulheres no Legislativo?
É reflexo de todo um cenário cultural. Os espaços de poder, em geral, ainda são muito masculinos. Alguns vão perguntar: existe preconceito contra a mulher para atuar na política.? Claro que existe, mas são necessários outros elementos para explicar essa baixa representatividade feminina. Por exemplo, muitas vezes pude perceber, por experiência há 20 anos trabalhando com lideranças femininas, que muitas mulheres dizem que não votar em outra mulher. Há também aquelas não acreditam ou não conhecem o próprio potencial para liderar.

Falta incentivo para a participação da mulher na política?

Falta, com certeza. Mais do que isso, falta compreender quais seriam esses incentivos e qual a efetividade deles. Eu também não tenho a resposta sobre qual a política pública ideal para impulsionar a inserção feminina, mas acredito que pautar a sociedade sobre esse tema é um começo. Uma boa discussão é sobre qual é o papel das legendas, por exemplo. Os partidos que ainda enxergam as mulheres como cotas de candidaturas, a grande maioria até atinge os 30% de mulheres como candidatas, mas a pergunta é: será que os partidos se preocupam na mesma proporção em dar espaço para elas, para que tenham condições de ganhar as eleições.? Falo de tempo de TV, de recursos.

E não falo isso só em relação às mulheres, isso vale para novas lideranças em geral.

Como garantir então mais espaço para as mulheres?

Acredito que o melhor caminho é produzir informações e debates. Se a ampla maioria das pessoas entender que toda a sociedade ganha com maior participação feminina no Parlamento, esse aumento vai ser algo natural. Um exemplo objetivo é a sensibilidade feminina, homens e mulheres são diferentes e até por isso são complementares, mas a sensibilidade da mulher é algo que, em geral, há de se ressaltar e isso tende a maior vocação para serviços sociais. Elas têm maior facilidade para ouvir, para se comunicar.
 

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