Em 100 dias como prefeito de Belo Horizonte, que serão completados nesta segunda-feira, Alexandre Kalil (PHS) passou pelas dificuldades políticas enfrentadas pela maioria dos chefes do Poder Executivo. O discurso “Chega de política!” que foi bem-sucedido na campanha eleitoral se mostrou complicado na relação com os vereadores. Logo no primeiro projeto, levado ao plenário da Câmara Municipal a pedido do prefeito, sofreu a primeira derrota. Sem uma base formada, outras derrotas vieram, com seguidos vetos da prefeitura rejeitados no Legislativo. A mudança ocorreu no fim do mês passado, quando Kalil passou a manter contato direto com vereadores e aumentou o diálogo com diferentes grupos da Casa. A base aliada da prefeitura no Legislativo começou a se formar, mas ainda existem focos de instabilidade para Kalil contornar.
Após vencer o segundo turno de virada, sem nunca ter disputado uma eleição antes, o ex-presidente do Atlético chegou à prefeitura com moral em alta e prometeu uma gestão diferente, rejeitando os métodos políticos tradicionais de negociações em trocas de cargos. O prefeito escolheu nomes técnicos, em sua maioria, para compor o secretariado, deixando de lado indicações de vereadores.
Bem ao estilo característico que o tornou conhecido no Brasil como cartola do futebol, Kalil cobrou “juízo” dos vereadores logo na cerimônia de posse e anunciou que iria “reformular a política da cidade”. No mesmo evento, em 1º de janeiro, o candidato apoiado pelo prefeito para a presidência da Câmara, vereador Dr. Nilton (Pros), foi derrotado pelo vereador Henrique Braga (PSDB), em uma eleição tumultuada.
Nas primeiras sessões da Câmara ficou claro que Kalil teria vida difícil para aprovar projetos de seu interesse. O projeto para a criação do Fundo Municipal de Esportes, defendido pela prefeitura, foi derrotado em plenário, sem receber os 21 votos necessários. O então líder de governo, vereador Gilson Reis (PCdoB), chegou a anunciar que teria os votos para aprovar a matéria, mas o resultado foi o contrário. Dois dias depois, Reis entregou o cargo.
Sem uma base formada e sem líder de governo, Kalil viu vários vetos serem rejeitados pelos vereadores. A criação do parque regional Oeste, a ampliação do horário de funcionamento do metrô, a divulgação de informações sobre radares no portal da prefeitura e a divulgação das despesas municipais com peças publicitárias foram alguns dos temas vetados pela PBH rejeitados na Câmara.
Estilo novo
A partir de março, quando ficou bem claro que a prefeitura teria dificuldade em aprovar qualquer texto no Legislativo, Kalil mudou a estratégia no contato com os vereadores. Para discutir a reforma administrativa – projeto considerado o mais importante para a PBH neste ano, que poderá gerar economias aos cofres municipais – o prefeito determinou um diálogo com todos os vereadores antes de apresentar o projeto. Dessa forma, pretende evitar que o assunto sofra com obstruções na Câmara.
A maior atenção reservada aos parlamentares, que passaram a ter reuniões quase diárias na prefeitura com o próprio Kalil ou com secretários para discutir demandas em suas bases eleitorais, gerou resultados rapidamente. Na primeira visita à Câmara, na semana passada, o prefeito ouviu apenas elogios. Até mesmo vereadores que adotavam postura de confronto com o Executivo passaram a cumprimentar a atuação política do prefeito no trato com o Parlamento.
Cacique político
Em pouco mais de três meses de governo, Kalil se consolidou como o principal nome de seu partido, o PHS. O prefeito de BH foi a grande estrela da legenda na propaganda eleitoral gratuita veiculada para o país. Ele foi citado pelo presidente nacional do partido como exemplo de alternativa para “virar o jogo” e recuperar a confiança das pessoas na política. O nome do ex-cartola atleticano é lembrado nos bastidores sobre a disputa para o governo de Minas, em 2018, mas pessoas próximas ao prefeito afirmam que ele já disse que pretende cumprir seu mandato na capital.
Desde o final do segundo turno, Kalil deixou claro que selecionaria com quais lideranças políticas manteria contato durante sua gestão na capital mineira. Em seu primeiro discurso como eleito, ele disse que conversaria com alguns líderes, como o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), o ex-prefeito de BH Marcio Lacerda (PSB), e com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), mas disse que não conversaria com o presidente do PSDB, senador Aécio Neves, que considerou ser um adversário.
A aproximação com o governador paulista, que tenta se viabilizar como opção tucana para a eleição de 2018, continua em andamento. Kalil e Alckmin iriam se reunir na noite de sexta-feira, no Palácio dos Bandeirantes, mas o encontro foi adiado e deve ocorrer na próxima semana. Desde o início do ano, o tucano busca uma aproximação com lideranças mineiras. O paulista também conversa com o ex-prefeito Marcio Lacerda (PSB) desde o ano passado.
Em Brasília, Kalil se reuniu com o presidente Michel Temer (PMDB) e com o ministro da Saúde, Ricardo Barros, para cobrar recursos para investimentos na saúde em BH. Ele voltou com o anúncio de que os recursos para o pleno funcionamento do hospital do Barreiro estavam garantidos e que o hospital será 100% entregue ainda este ano.
Governo Kalil em frases
» 1º de janeiro
“Governar para quem precisa é governar abrindo mão de cargos, empregos e gastos desnecessários. Todo o dinheiro dessa prefeitura não será canalizado para troca de favores. Então eu peço aos vereadores muito juízo”
Recado para os vereadores na posse
» 2 de janeiro
“Bons técnicos precisam de bons salários para cuidar bem da população”
Sobre o aumento para primeiro escalão da PBH
» 2 de janeiro
“A única coisa que tive o cuidado de ver foram os reajustes que foram feitos em todo o país para ver se aconteceu algum abuso (em BH). E, a princípio, não aconteceu. Não posso reavaliar uma passagem que entra depois de amanhã, não tenho tempo hábil para isso”
Sobre o aumento da passagem do ônibus na capital
» 18 de fevereiro
“Eu respeito muito o dever e a palavra que foi dada para a população. Na minha zona eleitoral, a mais rica da cidade, eu tomei uma surra. Eu tenho compromisso com o povo mais pobre, que me elegeu e isso me apavora, me apavora tanto que eu não tenho cabeça pra pensar em outra coisa a não ser cumprir o pouco que eu prometi na campanha”
Sobre a possibilidade de se candidatar a governador em 2018
» 15 de março
“Não estamos aqui peitando, ameaçando, nada. Mas não concordamos que se dê um cheque de R$ 400 milhões para o Rio de Janeiro, enquanto se deve a uma cidade que não faz farra com dinheiro público R$ 200 milhões do ano passado”
Encontro com o presidente Michel Temer, em Brasília
» 3 de abril
“Aproveito o novo momento da relação entre Executivo e Legislativo para agradecer humildemente a todos os vereadores que foram ao meu gabinete levar as demandas o povo. Resolver as questões da população é nossa obrigação”
Em visita à Câmara, Kalil adota tom ameno com os vereadores