Maceió, 09 - Enquanto o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) ganhava o noticiário na semana passada ao elevar o tom das críticas contra o governo Michel Temer, o governador de Alagoas, Renan Filho, primogênito do cacique peemedebista, viajava a Brasília e tentava evitar que a crise envolvendo seu pai respingue nos repasses federais ao seu Estado.
A mudança de postura do líder do PMDB em relação a Temer, ao menos até agora, não ganhou adesão da família. Em Maceió, Renan Filho tenta fugir das polêmicas do pai e manter a boa relação com o governo, além de se concentrar nas articulações para a sua reeleição.
“O governo do Estado não pode prescindir de investimentos do governo federal. Por que eu deveria abrir mão de duplicar estradas, receber o Minha Casa, Minha Vida? Só pelo fato de o senador expressar pontos de vista?”, questionou. “Aqui (em Alagoas) não há rompimento. Um rompimento definitivo no mesmo partido não é coisa trivial. Tem quem colabora para que não haja. Estou preparado para seguir defendendo o que estou fazendo.”
Para opositores, a versão do senador distante do filho é mera jogada de marketing. Já para aliados, a atuação em campos distintos é uma estratégia do clã. A relação entre os dois é descrita como fria por políticos próximos e, segundo eles, o próprio senador incentiva o filho a trilhar carreira independente. O governador afirma que as duas versões estão corretas.
Nos primeiros anos de governo, Renan Filho levou adiante um ajuste fiscal, nomeou técnicos de fora do Estado e enfrentou a ira de amigos do pai. A conta veio nas eleições do ano passado, quando o PMDB fez 38 das 102 prefeituras alagoanas, mas perdeu para o PSDB em Maceió e Arapiraca, as duas maiores cidades. No Estado, é criticado por ser avesso às articulações de bastidores, característica que é uma das marcas do pai.
Episódios que marcaram as brigas políticas alagoanas, como tiroteios e até paredes da antiga sede do governo “pintadas” de fezes em uma transição, ficaram para trás. Na nova sede, o Palácio República de Palmares, um prédio espelhado e quente em Maceió, Renan Filho se desdobrava na terça-feira para receber romarias de prefeitos. Entre eles o tucano Rogério Teófilo, adversário que derrotou o PMDB nas urnas em Arapiraca.
Estilo
- Em cargos públicos desde 1979, ano do nascimento do primeiro dos três filhos com Maria Verônica, o senador, experiente na prática da articulação política, adotou um modelo diferente de enfrentamento ao disparar vídeos com críticas a Temer, velho adversário dentro do PMDB.
A versão “youtuber” é vista no partido como uma estratégia para atrair o eleitorado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no sertão e no agreste e, assim, assegurar parte do poder que acumulou nos tempos de presidente do Senado, ministro da Justiça e figura influente nas conversas entre Congresso e grupos econômicos do Nordeste e do Sudeste. O PT de Lula, porém, rompeu com Renan Filho, chamando o PMDB alagoano de “golpista”.
Para continuar no jogo, Renan recorre à tecnologia e novas formas de comunicação, mas sem abrir mão de encontros com vereadores e prefeitos. Ele usa o Twitter, o Instagram e programas de rádio na tentativa de unir aliados e o WhatsApp para conversas em que não disfarça o incômodo de ser ignorado pelo filho no Estado. “Se ele reclama de mim, imagina do Michel”, diz o governador, tentando minimizar diferenças.
Defensor
- Enquanto isso, Renan Filho tem o cuidado de demonstrar fidelidade ao pai. Cita em detalhes cada trecho dos processos enfrentados pelo senador para desconstruir as acusações, incluindo as relacionadas ao caso extraconjugal do pai com a jornalista Mônica Veloso, que custou mágoas em casa. “Toda família tem problemas.”
Enquanto Renan, o pai, busca qualquer apoio, Renan, o filho, é aconselhado a se desvencilhar de uma herança que não lhe interessa mais. Em quase uma hora de entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o governador chamou o senador, na maioria das vezes, pelo título do cargo. Mesmo em momentos de informalidade evitou chamá-lo de pai. “Eu tenho um papel próprio. O senador também tem”, afirma.
O governador minimiza o duelo sutil que trava com o pai. Diz que toda família tem divergências. “Só faço esse governo porque ele colabora muito. Não tem como fazer um governo sem um grupo. Ninguém faz nada sozinho”, diz.
Na semana em que Renan chamou Temer de Dunga, o governador deixou claro, também em metáfora, que não participa do jogo federal nem romperá com o Planalto, pelo menos até o próximo ano. “Procuro dialogar. É salutar ouvir e conversar com o governo e o Parlamento. Lá estão os especialistas, a seleção brasileira. Jogo a Série B”, afirma Renan Filho.
Embora faça críticas pontuais a propostas da terceirização e da reforma da Previdência do atual governo, Renan Filho não assinou a lista dos governadores nordestinos que anteciparam apoio a Lula em 2018.
Renan, o pai, afirmou, por meio de sua assessoria, que tem posições políticas claras e que não é um homem que “vá e volte”. As ideias e objeções que tem, por exemplo, sobre uma reforma da Previdência “radical” e a terceirização para atividades fins, diz ele, são as mesmas há décadas. “O que os críticos a essa minha postura não admitem é discutir os assuntos no mérito”, afirma.
Perseguição
- Para o presidente da Assembleia Legislativa de Alagoas, Luiz Dantas (PMDB), Renan, o pai, sofre uma “perseguição insana”. Ele rejeita versões de que o senador reivindica espaço na máquina do Estado. “Ele pode dar conselhos ao governador, mas não tem interferência velada”, afirma. “O governador toca de forma independente.”
Nas últimas semanas, o governador atenuou reclamações, incluindo o pai em visitas a obras e marcando a viagem que fez a Brasília para uma quinta-feira. Assim, aproveitou para dar carona no seu avião ao senador, que passa os fins de semana em Maceió. Desde que deixou a presidência do Senado, Renan não dispõe de aeronave da Força Aérea Brasileira.
Câmara
- Ao contrário de outros nomes influentes do PMDB que disputaram assento na Câmara após passagem pelo Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) não pode ser candidato a deputado, apenas a senador. Isto porque o artigo 14, parágrafo 7º da Constituição, considera inelegível parente especialmente de governador, salvo se já for titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.
Nessa disputa, aparecem na lista o também senador Benedito Lira (PP) e os ex-governadores Teotônio Vilela (PSDB) e Ronaldo Lessa (PDT), além da ex-senadora Heloísa Helena, da Rede.
Além de Maurício Quintella, do PR, titular dos Transportes do governo Michel Temer, outro ministro em campanha pela vaga é Marx Beltrão, do PMDB. Tanto Quintella quanto Beltrão são oponentes diretos do senador. As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.