Nos bastidores do Congresso Nacional corre um dito que se o ex-presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) “pular do 10 andar, pode ir atrás porque lá embaixo é água”. A brincadeira é bem reveladora do estilo de Renan para se manter sempre no poder. Ou o mais perto possível dele. Foi assim com a ex-presidente Dilma Rousseff de quem era próximo e chegou a ser tido por petistas como um aliado importante para garantir sua permanência no cargo. Isso até o impeachment virar uma onda irreversível e ele abandonar o barco. E com o presidente Michel Temer (PMDB) parece não ser diferente.
Patinando na baixa popularidade, Temer virou alvo da artilharia do seu correligionário, que é também líder do PMDB no Senado. Renan subiu o tom nas últimas semanas e vem criticando sem trégua o Palácio do Planalto e suas medidas. Por trás do fogo amigo está o cenário eleitoral pouco promissor para a família Calheiros em Alagoas, onde Temer é rejeitado por 72,4% da população, segundo levantamento do instituto Paraná Pesquisas publicado dia 10.
Mas com reformas e projetos impopulares como o da Previdência Social, a economia em grave recessão e na mira da Justiça depois de ter sido denunciado pela operação Lava-Jato, essa meta pode ser difícil de ser alcançada ao lado de um presidente pouco popular, principalmente no Nordeste. Além disso, a disputa pelo Senado promete ser acirrada. Já são seis pré-candidatos adversários para duas vagas, entre eles o ex-governador Teotônio Vilela Filho (PSDB). E ainda uma disputa dentro de seu próprio partido já que Max Beltrão, ministro do Turismo e deputado federal pelo PMDB de Alagoas, também pleiteia a vaga de candidato ao Senado.
Governo de Alagoas
Já Renan Filho pode ter de enfrentar o prefeito reeleito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB), depois de ver o PMDB perder as eleições municipais nas principais cidades do estado, entre elas a capital. E dessa vez sem o apoio de Lula, cabo eleitoral importante no Nordeste. Desde o impeachment, o PT de Alagoas rompeu com o governo e entregou todos os cargos.
Se a situação ficar mais difícil, a chapa majoritária pai e filho pode ser invertida. Renan disputa o governo e o filho o Senado. Essa hipótese vem sendo defendida nos bastidores pelo grupo de Calheiros como uma possibilidade para blindar o senador, caso sua situação na Justiça fique mais complicada. É que a Constituição alagoana prevê autorização do Legislativo para abertura de processo contra o governador. Foi isso que livrou Teotônio Vilela Filho de ser processado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), em 2008, na ação penal que apurava seu envolvimento com desvios de recursos de uma construtora para a realização de obras com recursos federais. O tucano acabou ileso, pois a operação que desencadeou essa investigação foi anulada pelo Supremo Tribunal Fedeeal (STF).
Reduto eleitoral
Distanciamento Antevendo dificuldades, Renan, uma raposa na política, com quase 40 anos de vida pública, – ele começou como deputado estadual aos 23 anos –, tem atacado abertamente a reforma da Previdência proposta pelo governo, uma das principais bandeiras do Planalto, além de tecer críticas ao projeto de terceirização aprovado pelo Planalto por meio de uma manobra para impedir que ele fosse levado ao Senado. Essa semana, depois das mudanças anunciadas pelo governo no projeto de reforma da Previdência, Renan chegou a citar sua região eleitoral para criticar a proposta.
Rompimento à vista
O senador nem disfarça mais seu distanciamento do Planalto. Em outra entrevista a uma TV alagoana, disse que “ainda não” rompeu com Temer, mas chegou a comparar o atual governo com o período em que a seleção brasileira era treinada pelo técnico Dunga. Nesse período, a seleção perdeu várias competições e a popularidade. “Rompimento, ainda não. O que está ficando claro são posições diferentes do PMDB e do governo”, disse essa semana.
Mas essa não é a primeira vez que Renan encabeça o movimento de rompimento com um governo com baixa popularidade. Em 2001, ele foi um dos integrantes da cúpula do PMDB que defendeu o rompimento com o PSDB, de quem era aliado de primeira hora e já tinha sido ministro, para lançar como candidato à sucessão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) o ex-presidente Itamar Franco, na época filiado ao PMDB, já falecido. A articulação não vingou e o PMDB acabou indicando a então deputada federal Rita Camata (PMDB-ES) para ser candidata a vice-presidente da chapa tucana encabeçada por José Serra.
Desembarque
Mas Renan estava certo ao pregar o desembarque do governo FHC, que terminou seu mandato com 36% de reprovação – um número até simpático perto da rejeição de Temer. Serra foi derrotado por Lula e o PMDB ficou de fora do Planalto. Posteriormente, Renan se aliou a Temer, na época deputado federal e presidente nacional da sigla, e juntos levaram o PMDB para o governo Lula.
Questionado recentemente sobre as críticas de Renan, Temer que já negocia cargos e matérias diretamente com senadores do PMDB para tentar isolar o ex-aliado.