Focado na aprovação da reforma previdenciária, o presidente Michel Temer aproveitou o domingo para uma reunião com ministros representantes do Nordeste. O encontro reuniu Bruno Araújo, das Cidades; Mendonça Filho, da Educação; Raul Jungmann, da Defesa, Antonio Imbassahy, da Secretaria de Governo; ainda o líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro, do PP da paraíba e os presidentes do Senado, Eunício Oliveira, e o da Câmara, Rodrigo Maia, anfitrião do grupo.
Alteração da proposta
A avaliação preponderante hoje na base aliada é a de que, se a população não considerar suficientes as mudanças anunciadas até agora na reforma da Previdência – ou a oposição fizer valer a sua versão de que as mudanças são ínfimas –, o governo não terá os 308 votos necessários. Portanto, a ordem agora é tentar fazer aos parlamentares que as mudanças são significativas e ajudarão, em especial, os mais pobres, como o trabalhador rural.
A ordem é fazer com que os deputados mudem a visão preponderante na base, de que é preciso alterar mais o texto. Em conversas reservadas, muitos dizem que as mudanças vieram tarde, uma vez que está cristalizado na mente dos brasileiros que qualquer mudança terá que atingir também a idade mínima. “Essa alteração veio tarde. Será muito difícil a população aceitar que essas mudanças pontuais amenizam o futuro”, diz o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).
Regras para as mulheres
A área econômica do governo ainda resiste a mudanças na idade mínima, embora essa possibilidade esteja em discussão para as mulheres. Enquanto a decisão final nesse quesito não vem e com a Semana Santa na ordem do dia, a hora é de tentar convencer os religiosos sobre a importância da reforma. Daí, a resposta do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A Igreja, para quem não se lembra, fez praticamente um levante contra a reforma da Previdência, ao ponto de levar o tema para missas da mesma forma que os pastores têm mencionado o assunto nos cultos espalhados por todo o país.
No texto divulgado ontem, o presidente da Câmara lembra que sem a reforma “são exatamente os mais pobres que serão prejudicados”. Ele se refere especialmente aos aspectos econômicos negativos que virão, caso a reforma não seja aprovada. Cita especificamente inflação, desemprego, crescimento negativo do país, ou seja, recessão.
Igreja contra
“Tanto quanto a CNBB, a Câmara também está preocupada em preservar os direitos dos mais necessitados. A reforma vai acabar com privilégios, e todos se igualam. Inclusive com tetos de aposentadoria que acabam com ganhos milionários. Políticos e servidores públicos agora terão TODOS as mesmas regras”, diz o texto de Rodrigo Maia, com destaque à palavra “todos” escrita em caixa alta.
A ideia do presidente da Câmara ao divulgar o texto num domingo é tentar fazer frente ao levante da Igreja contra a reforma, especialmente, nesses dias que antecedem a Semana Santa e o número de fiéis nas missas costuma ser maior.
Isolamento no senado Enquanto Rodrigo Maia tenta fazer uma ponte com as Igrejas, o presidente Michel Temer continuará a sua agenda de reuniões com senadores e deputados para cuidar da reforma da Previdência. Na semana passada, ele recebeu os senadores Valdir Raupp, de Rondônia; Garibaldi Alves, do Rio Grande do Norte; Rose de Freitas, do Espírito Santo; e João Alberto, do Maranhão. Todos do PMDB.
A conversa girou em torno da reforma e da importância das mudanças para garantir que, num futuro não tão distante todos possam receber benefícios previdenciários, sem que a União passe pelo constrangimento que vive hoje o Estado do Rio de Janeiro, sem recursos para pagar os aposentados e pensionistas.
Atrito com Renan
Com essas conversas, o governo tenta isolar o líder do PMDB, senador Renan Calheiros, de Alagoas, que de uns tempos para cá vem assumindo o papel de líder da oposição. Os movimentos de Renan contra a reforma da Previdência começam a refletir na Câmara dos Deputados. Dia desses, um deputado dizia ao Estado de Minas que as palavras de Renan contra a reforma têm feito com que muitos deputados desistam de votar a proposta do governo, ainda que venham as mudanças anunciadas pelo relator Arthur Maia e pelo governo. O que se ouve na Câmara é “Se Renan que é o Renan reclama e o projeto ainda nem chegou lá, imagine nós aqui na Câmara, que estamos mais próximos de votar um texto que não agrada as nossas bases”.