São Paulo, 12 - O presidente afastado da Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht, afirmou ao juiz federal Sérgio Moro, dos processos da Operação Lava Jato, em Curitiba, que o ex-ministro Paulo Bernardo pediu, por indicação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, uma contribuição de US$ 40 milhões, para aprovação de uma linha de crédito de US$ 1 bilhão para que a empresa exportasse bens e serviços para Angola.
"No caso específico dessa negociação, em 2009, início de 2010, até porque eu acho que estava se aproximando da eleição, veio o pedido solicitado para mim por Paulo Bernardo, na época, que veio por indicação do presidente Lula, para que a gente desse uma contribuição de US$ 40 milhões e eles estariam fazendo a aprovação da linha de US$ 1 bilhão para exportação de bens e serviços", declarou Odebrecht, ouvido no dia 11 por Moro, como réu em ação penal em que o ex-ministro Antonio Palocci é acusado de acertar R$ 123 milhões em propinas ao PT.
"Em 2009, 2010, teve uma negociação de uma linha de crédito envolvendo Angola que se dava entre os dois país", explicou Odebrecht. O vídeo do depoimento, que estava sob sigilo, foi tornado público nesta quarta-feira, 12.
O delator revelou que o ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda, governo Lula, e Casa Civil, governo Dilma Rousseff) era o principal interlocutor das propinas acertadas pela Odebrecht com o PT. Identificado como "Italiano" nas planilhas secretas do Setor de Operações Estruturadas - o chamado "departamento da propina" -, Palocci cuidou dos repasses para Lula, que era identificado como "Amigo".
"Todos pagamentos eram autorizados por Palocci."
Além de Palocci, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega passou a ser outro interlocutor dos acertos da conta corrente do PT, sob o codinome "Pós-Itália".
"Nós participávamos dessa negociação no sentido de dar inputs para o governo de lá, o governo daqui, mas nunca entramos nessa negociação, porque era entre os dois países. Nós tínhamos interesses, era exportação de bens e serviços, tínhamos fechados vários contratos em Angola e que só demandava essa linha de crédito para fazer exportação de bens e serviços. Quando veio essa negociação de US$ 1 bilhão, como sempre a gente fazia a gente tentou mostrar com embasamento técnico, que a linha era importante."
O empresário, um dos 78 delatores da Odebrecht, afirmou que buscou o diretor da empresa em Angola, e combinou de embutir os US$ 40 milhões dentro do lucro, do custo da obra.
Angola
"Eu já sabendo que os contratos existiam, eu acabei aceitando. E teve uma coisa que o pedido foi de US$ 40 milhões, o pedido foi feito pelo Paulo Bernardo, toda condução foi feita por ele, que era o ministro de Planejamento. Guido não se envolveu nesse assunto específico, agora, sempre dado ciência a Palocci e que me ajudava eventualmente com Paulo Bernardo se precisasse."
O empresário afirmou que conseguiu reduzir o valor da propina paga a pedido de Lula, para US$ 36 milhões, descontando os custos de operação dos repasses.
"Eu fui a Palocci e falei assim. Palocci, olha o Paulo Bernardo me pediu US$ 40 milhões, tem um custo de geração desses US$ 40 milhões, porque eu vou receber através de exportação de bens e serviços, vou ter que mandar para cá, tem um custo de geração de 10%. E aí consegui reduzir com Palocci esse valor de US$ 40 milhões para UU$ 36 milhões, que convertido ao câmbio da época, deu R$ 64 milhões."
Segundo Odebrecht, o episódio de cobrança de propinas em contrapartida para a linha de crédito em Angola e o pedido feito por Mantega, de repasse de R$ 50 milhões para a campanha 2010, pela medida provisória do Refis, são os dois únicos casos específicos que ele considera "propina".