Aécio 'precisava de um fôlego e me procurou', diz Odebrecht

Ex-presidente de empreiteira afirma que, em 2014, foi procurado pelo senador do PSDB e teria liderado repasse de R$ 15 milhões, quando Dilma parecia estar eleita

As relações da empreiteira Odebrecht durante a campanha presidencial de 2014 com o então candidato o senador Aécio Neves, pelo PSDB, foram relatadas em delação por Marcelo Odebrecht, que comandou a companhia.
O senador disputava com a ex-presidente Dilma Rousseff. Odebrecht contou que a “primeira conversa” com o senador tucano ocorreu ainda na pré-campanha.

“Precisavam ter gastos de pré-campanha aí acertei com ele valor de gastos para a pré-campanha. Aparentemente, pode até ter sido com doação oficial para o PSDB. Bancou durante dez meses valores, era 500 mil por mês, durante dez meses.” Posteriormente, segundo o ex-presidente da Odebrecht foi realizada doação oficial a Aécio “mais ou menos o mesmo montante de Dilma”, afirma o delator.

“Do ponto de vista oficial a gente equilibrou o valor de Aécio com o valor de Dilma”, prosseguiu ele no depoimento gravado em vídeo pela força-tarefa da Lava-Jato. O empresário disse também que, na véspera do primeiro turno da eleição 2014, ganhou força a possibilidade de a petista levar já no primeiro turno. Segundo ele, o tucano “precisava de um fôlego” e o procurou.

“Pediu um encontro comigo. Eu falei 'Aécio, é complicado, eu não posso aparecer doando mais pra você do que pra Dilma'.
Ele também tinha assumido compromisso de apoiar algumas candidaturas e coincidiu algumas pessoas que a gente tinha relação, eu lembro, ele falou alguns nomes. Agripino. Eu disse 'pô Aécio, esse é um candidato que não tem nenhum problema, então a gente apoia'”. Odebrecht contou ter combinado o repasse com o diretor da empreiteira em Minas, Sérgio Neves. “Olha Sérgio, procura o Osvaldo (Osvaldo Borges, outro quadro ligado ao PSDB) e acerta o valor de 15 (milhões)."

Ainda no relato feito, Marcelo Odebrecht relatou sobre suas ligações com Aécio no que se tratava de negócios da empreiteira em Furnas Centrais Elétricas. “Quem cuidava da relação de contribuições, qualquer pedido naquela época, estou falando de 2000, era o Henrique, responsável pelo nosso negócio de energia. Tinha interesse e, principalmente, lidava com Dimas (Toledo, ex-presidente da estatal de energia e antigo aliado de Aécio). Dimas, na época, era um operador informal do PSDB.”

“Então, nesse momento foram feitas contribuições relevantes”, seguiu o delator. “Praticamente, com a assunção do governo Lula, passou a ser grande a interface nossa com o PSDB. Eu não sei precisar quantas dessas contribuições do PSDB foram para o Aécio, para os candidatos, quanto isso foi de caixa dois. Como é coisa antiga... sei que eram montantes relevantes, a gente tá falando da ordem de pelo menos 50 milhões. O Henrique comentou uma época, eu até estimulei, 'olha, é o único ponto que a gente tem hoje de relacionamento com o PSDB, Aécio é uma pessoa importante, vai ser importante, eu acho que vale a pena você assumir essas contribuições'.”

Odebrecht citou Osvaldo Borges.
“Aí entra o governo estadual de Minas, Aécio é eleito governador. A partir daí essas contribuições de Dimas e Aécio governador, quem passou a ser, assim, tesoureiro informal era mais o Osvaldo Borges. Bom, a partir desse momento eu também comecei a criar uma relação crescente com Aécio, comecei a ter contatos mais constantes com ele. Não só pra discutir política, tudo que é tipo de coisa”. “Eu me lembro de ter tido várias reuniões com Aécio”, declarou.

Defesa


Em nota divulgada nesta terça-feira, 11, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), disse considerar importante o fim do sigilo do conteúdo das delações premiadas dos ex-executivos da Odebrecht. Na nota, o tucano diz que ele pediu ao ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), a quebra dos sigilos e que agora "será possível desmascarar as mentiras e demonstrar a absoluta correção de sua conduta".

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