Uma ferramenta que permite a fiscalização do uso de dinheiro público no Brasil foi a grande vencedora da competição Hack Brazil, realizada em Cambridge, nos Estados Unidos. O projeto, desenvolvido por uma equipe de Belo Horizonte formada por três profissionais e denominado Diagnóstico Público, foi destaque por proporcionar maior eficiência no planejamento e na identificação de irregularidades, funcionando como recurso de combate à corrupção. O primeiro lugar foi dividido com outra iniciativa chamada de Bubu Digital, uma chupeta com termômetro para auxiliar no tratamento de bebês. A competição foi criada e organizada pela Universidade de Harvard e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
A premiação foi realizada no último fim de semana, no mesmo evento que reuniu principais nomes da política, do Judiciário e do Ministério Público do Brasil, incluindo protagonistas da Operação Lava-Jato, como a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o juiz federal Sérgio Moro, o procurador Deltan Dallagnol e ministros do Supremo Tribunal Federal.
Ao todo, cerca de 4 mil projetos foram inscritos e 20 selecionados para a etapa classificatória. Desses, cinco se apresentaram no dia do evento. Para um dos idealizadores da ferramenta, o analista de sistemas Matheus Moreira, a ferramenta ajuda na fiscalização dos gastos públicos e, com isso, contribui para um dos temas mais debatidos no país e no mundo, que é o combate à corrupção. “A transformação social não é só de cima para baixo. A sociedade está trabalhando todo dia para fazer as coisas e fica parecendo, às vezes, que todo brasileiro é corrupto.
Ele diz que o sistema pode ser muito útil para a gestão pública ficar melhor. “Os recursos existem, o que falta ser feito é uma gestão mais eficiente e efetiva e é neste ponto que o Diagnóstico Público busca auxiliar os gestores”, afirma. Quem faz coro com ele é o co-criador da ferramenta, o analista de sistemas Marcos Rabelo. “O poder público precisa se apropriar deste tipo de tecnologia, para encontrar caminhos mais assertivos”, considera. Além de Marcos e Matheus, também integra a equipe o designer Phillippe Albuquerque.
Na prática, a ferramenta funciona cruzando dados de diferentes bases. Os desenvolvedores criaram uma espécie de robô, apelidado de Gaspar, responsável por atualizar de forma automatizada os bancos de dados do Diagnóstico Público. Com as análises, prefeitos, agentes de controle e dirigentes de órgãos públicos podem ter controle dos gastos, acompanhar indicadores, potencializar receitas. “Em questão de segundos, por exemplo, é possível comparar se um município está pagando um bom preço pelos produtos e serviços adquiridos ou então verificar se o gasto com diárias daquela cidade está muito acima da média se comparado a municípios semelhantes”, afirmam os criadores na descrição do sistema.
LICITAÇÕES
A ferramenta também permite múltiplas possibilidades de investigação dos gastos dos recursos públicos. Consegue disponibilizar as empresas que participam de licitações e em quais outros processos prestaram serviços. E mais, é possível saber gastos, inclusive individuais, de passagens e diárias, por exemplo, feitas pelos servidores. Além de ser possível, por exemplo, fazer um ranking dos municípios que mais gastam com saúde, transporte, entre outras rubricas. “São sementes que estão sendo lançadas. Bom demais viver essa realidade”, comemora Matheus Moreira.