Na época, Fábio Faria concorria a uma cadeira na Câmara dos Deputados, enquanto o pai, Robinson Faria (PSD), era o vice na chapa encabeçada por Rosalba Ciarlini (PP) na disputa pelo governo do Rio Grande do Norte.
"Ele (Fábio Faria) falou que precisava de R$ 100 mil pra campanha dele e R$ 350 mil seriam repassados pra campanha majoritária (de Rosalba Ciarlini ao governo estadual), mas essa conversa foi só com ele. Não teve o pai dele nessa conversa", disse Barradas em depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR).
Indagado se o parlamentar perguntou de onde vinha o dinheiro, Barradas foi categórico: "A maneira de fazer (o repasse) foi logo colocada: 'Agora eu não tenho condições de fazer forma oficial, eu tenho de fazer via caixa 2...' Isso foi falado".
Rosalba foi eleita governadora do Rio Grande do Norte no primeiro turno das eleições com 52,46% dos votos válidos. Fábio Faria, por sua vez, garantiu uma cadeira na Câmara dos Deputados naquela eleição.
Segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Barradas tinha a função de identificar lideranças políticas que pudessem apoiar e criar um ambiente favorável aos projetos de parcerias público-privadas e privatizações no mercado de saneamento.
"Toda doação de uma empresa tem sempre uma ideia... Ou ela vai apoiar uma pessoa pelas ideias, mas sempre um sentimento... Até uma instituição de caridade você doa porque está vendo um trabalho bem feito ali. Toda doação tem sempre um objetivo", comentou Barradas em seu depoimento.
"Você não pode apoiar um candidato com ideias estatizantes, vai ser um choque. Porque se o cara é estatizante, está na contramão daquilo que nós vendemos", explicou o delator.
Segundo Barradas, a questão do saneamento foi um dos principais pontos discutidos com Rosalba, que lhe teria prometido que a área seria prioridade de sua gestão, caso fosse eleita.
Para Janot, as condutas narradas "não se tratam de mera doação eleitoral irregular".
A reportagem não obteve resposta do deputado federal Fábio Faria, do governador Robinson Faria e da prefeita Rosalba Ciarlini. Além de Robinson Faria, outros dois governadores são investigados no Supremo Tribunal Federal (STF) com base nas delações da Odebrecht: o de Alagoas, Renan Filho (PMDB), e o do Acre, Tião Viana (PT)..