"Eu acho que estamos fazendo demagogia com um tema sério.
"Tenho a impressão de que nesse momento, em que processos estão tramitando, em que o entendimento pacífico do Tribunal já está estabelecido, fazer uma alteração cria uma grande insegurança jurídica", disse Gilmar.
O ministro falou com a reportagem por telefone, de Lisboa, onde participará de seminário promovido pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), que ocorre de 18 a 20 de abril.
A presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, deve pautar para o próximo mês um julgamento sobre a extensão do foro privilegiado. Se o STF decidir conferir uma interpretação mais restritiva ao foro, inquéritos da Operação Lava Jato poderiam deixar o STF e ser remetidos para outras instâncias.
O ministro Luís Roberto Barroso, do STF, defende uma interpretação mais restritiva sobre o alcance do foro privilegiado, que teria caráter excepcional, limitando-se especificamente aos crimes cometidos durante o mandato de políticos e que dizem respeito estritamente ao desempenho daquele cargo. O tema, no entanto, é polêmico e gera controvérsia entre integrantes da Corte.
"A mim me parece que há uma certa mistificação: para um problema complexo, está se dando uma resposta simples e errada", criticou Gilmar.
Para o ministro, um novo entendimento sobre o foro privilegiado neste momento pode criar "grande confusão".
"Se alguém não tinha prerrogativa do foro quando praticou o ato (criminoso), o caso vai para onde? Mas agora ele é senador... fica onde? E quando misturarem as situações?", questionou.
"São tantas perguntas que virão disso. O sujeito que está sendo acusado em vários fatos, é acusado de ter recebido por campanha de candidato a presidente da República, depois é acusado como governador, e agora é senador, o processo vai pra onde? Na verdade, há um certo oportunismo, um populismo hermenêutico. Esse discurso de que a primeira instância funciona e o segundo grau, não, é enganação", concluiu Gilmar..