Alexandrino alega ter sido apresentado ao ex-presidente por Emílio Odebrecht, em 1994. O patriarca do grupo havia conhecido Lula por meio do ex-governador de São Paulo Mário Covas (PSDB/1995/2001). "Na época o grupo estava iniciando uma investida extremamente agressiva na área de petroquímico. E, como essa área antes era estatal, precisávamos conversar com lideranças sindicais mais à esquerda de modo a tentar influenciá-los e mostrar que não era uma ruptura que estava acontecendo e sim uma continuidade de uma maneira mais competitiva e mais aberta".
A relação teria continuado, segundo o diretor da Odebrecht, após o período em que Lula se elegeu à presidência da República. O interlocutor do grupo com o petista teria sido o homem forte do chefe do executivo Gilberto Carvalho, que recebeu o apelido de "seminarista" em trocas de e-mails de executivos da construtora.
Quando Lula viajava a países do exterior, ainda à época em que estava na presidência da república, a Odebrecht enviava documentos sobre a situação das obras da construtora no país para que o petista levasse durante as visitas. Usualmente, a "ajuda de memória" era elaborada por diretores da empreiteira nos países e passava pelo crivo de Marcelo Odebrecht, segundo relata o delator.
"Ele ia para o Peru, para o Panamá, onde tínhamos obras, então mandávamos uma ajuda de memória de uma página, não mais do que isso, para contextualizar o presidente nos assuntos do Panamá", relatou.
Já à época em que havia saído da presidência, de acordo com os depoimentos da Odebrecht, a empreiteira teria financiado palestras do petista por meio do Instituto Lula. A primeira delas teria sido no Panamá, onde a Odebrecht tinha contratos para obras públicas. "Ele foi fazer uma palestra com empresários e a presença do presidente Martinelli. Depois, tivemos um jantar no qual estava o presidente Martinelli e voltamos para o Brasil. Formadores de opinião, a imprensa, as obras, isso tudo cria um 'goodview' interessante do país".
Alexandrino de Alencar lembrou que os valores eram acertados com Paulo Okamotto, que usou, como preço a se cobrar, o "parâmetro Bill Clinton" e de outros "presidentes internacionais", que cobravam na faixa de US$ 100 mil. "Subiu a régua e precificou US$ 200 mil. Que me conste, as quarenta e tantas palestras que ele fez foram todas US$ 200 mil dólares".
"O Lula é uma figura nos países na África e América Latina, quase um 'popstar'. Com respeito, então ele levava uma imagem positiva. Nós combinávamos, e que é muito público, que todo lugar que ele ia, ele fazia uma palestra. Uma palestra de vender o Brasil. Logicamente, que nosso pessoal lá estava por trás convidando formadores de opinião e jornalistas para mostrar essa relação nossa com ele".
Segundo o delator, as palestras não "abriam portas", mas eram um "cartão de visita muito importante o presidente do país saber que ele tinha uma relação diferenciada com o grupo"..