Brasília – Um dos maiores temores do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se concretizou ontem, com o depoimento ao juiz Sérgio Moro do ex-presidente da construtora OAS José Aldemario Pinheiro, o Leo Pinheiro. Ele não só confirmou que o ex-presidente era o dono do triplex no Edifício Solares, no Guarujá, litoral de São Paulo, disse também que Lula pediu a ele que destruísse documentos que seriam provas de propina pagas ao PT. Em outra audiência, Palocci, considerado o principal angariador de recursos para campanhas eleitorais petistas, afirmou a Moro ter informações que renderiam investigações por mais um ano. A defesa de Lula nega as acusações e diz que o empreiteiro criou uma “versão” acordada com o MPF para conseguir acordo de delação.
Pinheiro prestou depoimento na 13ª Vara de Justiça Federal, em Curitiba, no âmbito da ação em que o ex-presidente é réu, junto com o empreiteiro. O petista é acusado pelo Ministério Público Federal de ter recebido R$ 3,7 milhões de propina da OAS, em valores que teriam sido pagos por meio de reformas no triplex. O pagamento da propina, fruto de contratos com a Petrobras, também teria ocorrido por meio do armazenamento de bens do ex-presidente, de 2011 a 2016.
Na audiência, o empreiteiro garantiu que o triplex era, sim, de Lula e, por isso, jamais foi colocado à venda. O edifício pertencia à cooperativa habitacional Bancoop, que faliu e passou o controle do local à OAS. Segundo Pinheiro, foi o próprio Vaccari que o procurou e pediu para que a empreiteira fizesse parte do condomínio, com justificativa de que um dos empreendimentos era de Lula. “O apartamento era do presidente Lula. Desde o dia que me passaram para estudar os empreendimentos da Bancoop já foi me dito que era do Lula e sua família e que eu não comercializasse e tratasse aquilo como propriedade do presidente”, afirmou.
Pinheiro relatou ainda ter visitado o triplex com Lula e a mulher, Marisa Letícia, e definido mudanças no apartamento. Em seguida, segundo o depoimento, houve reunião com o casal, dessa vez, no apartamento do petista em São Bernardo do Campo (SP), em que se confirmou a reforma. “Todas essas modificações ocorreram após solicitação feita no dia em que fui com o presidente e a ex-primeira-dama no triplex. Foi fruto de nossa visita”, contous.
PROVAS O empreiteiro ainda afirmou que Lula pediu a ele que destruísse provas. Ambos teriam discutido os pagamentos prestados pela construtora em maio de 2014, dois meses após ser deflagrada a Lava-Jato. O ex-presidente teria perguntado a Pinheiro se ele pagava propina ao PT no Brasil ou exterior e de que forma eram feitos os pagamentos ao partido. Leo explicou que era por meio de Vaccari. Então, Lula teria dito: “Você tem algum registro de algum encontro de contas feitas com Vaccari com vocês? Se tiver, destrua”, afirmou o empreiteiro. Pinheiro foi condenado a 26 anos de prisão por corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa no esquema da Petrobras e está preso desde setembro de 2016 na carceragem da PF, em Curitiba.
A defesa de Lula atacou Pinheiro. “Ele foi claramente incumbido de criar uma narrativa que sustentasse ser Lula o proprietário do chamado triplex do Guarujá. É a palavra dele contra o depoimento de 73 testemunhas, inclusive funcionários da OAS, negando ser Lula o dono do imóvel”, diz nota assinada pelo advogado Cristiano Zanin Martins. Segundo ele, a afirmação é “fantasiosa” e contraria documentos da empresa. O advogado refuta também a acusação de que Lula mandou destruir provas. “É uma tese esdrúxula que já foi veiculada até em um e-mail falso encaminhado ao Instituto Lula que, a despeito de ter sido apresentada ao Juízo, não mereceu nenhuma providência”, afirma.
SENHA PARA
DELAÇÃO
Ex-ministro dos governos Lula e Dilma, Antonio Palocci afirmou a Moro que está disposto a revelar “nomes” e informações de interesse da Lava-Jato. Preso desde setembro, se defendeu de acusações e disse que houve propina em todas as campanhas eleitorais. Ele prestou depoimento em audiência na 13ª Vara Federal, em Curitiba, no âmbito da ação que responde por corrupção e lavagem de dinheiro. O ex-ministro negocia acordo de delação premiada para tentar minimizar a pena.
Após falar sobre o esquema com a Odebrecht, Palocci pediu a palavra e disse a Moro: “Fico à sua disposição hoje e em outros momentos, porque todos os nomes e situações que eu optei por não falar aqui, por sensibilidade da informação, estão à sua disposição o dia que o senhor quiser. Se o senhor estiver com a agenda muito ocupada, a pessoa que o senhor determinar, eu imediatamente apresento todos esses fatos com nomes, endereços, operações realizadas e coisas que vão ser certamente do interesse da Lava-Jato”.
O ex-ministro da Fazenda teceu elogios à operação e afirmou que ela “realiza investigação de importância”. “Apresento todos os fatos com nomes, endereços e operações realizadas. Posso lhe dar um caminho que vai lhe dar mais um ano de trabalho, que faz bem ao Brasil”, completou, ao falar dos nomes e informações. Palocci confirmou que se reuniu com Marcelo e Emílio Odebrecht e que pedia dinheiro para a empresa. Mas negou ter usado contratos da Petrobras e do BNDES e medidas no Congresso para beneficiar a empreiteira.