EM mostra como R$ 10 bi pagos pela Odebrecht a políticos poderiam resolver problemas do país

Em uma comparação prática, o montante daria para custear todas as despesas de uma cidade como Belo Horizonte durante 11 meses

Isabella Souto

Se direcionados a investimentos públicos, os mais de R$ 10 bilhões destinados pelo Grupo Odebrecht ao pagamento de propinas para políticos de 26 partidos seriam suficientes para suprir uma série de deficiências em áreas sensíveis, como saúde e educação.

O Estado de Minas buscou exemplos de como a montanha de dinheiro da empreiteira poderia ter um melhor destino do que parar nos bolsos de políticos ou nos cofres de partidos corruptos.

Em uma comparação prática, o montante daria para custear todas as despesas de uma cidade como Belo Horizonte durante 11 meses – o orçamento da prefeitura da capital mineira aprovado para este ano prevê receitas e despesas de R$ 11,58 bilhões. Poderia ainda atender a reivindicações antigas dos mineiros e belo-horizontinos, como concluir a duplicação da BR-381, a Rodovia da Morte, ou dar uma boa alavancada na expansão do metrô da capital.

O total da propina paga pela empreiteira também sanearia com folga as contas de Minas Gerais este ano. A previsão do governo é de que o estado feche 2017 com um déficit de R$ 8 bilhões, com despesas de R$ 95,3 bilhões, e R$ 87,2 bilhões de receitas. Em um universo maior, bancaria a ampliação das faixas de renda beneficiadas pelo Minha casa, minha vida anunciada para este ano, aliviando grande parte do déficit habitacional.

Voltando a Belo Horizonte, o dinheiro jogado pelo ralo da corrupção pagaria com sobra tudo que está previsto no orçamento para o setor de saúde (R$ 3,78 bilhões), educação (R$ 1,79 bilhão) e obras (R$ 1,22 bilhão). As verbas também serviriam para tirar do papel os projetos para modernização da Linha 1 e implantação das linhas 2 (Calafate/Barreiro) e 3 (Lagoinha/Savassi) do metrô de Belo Horizonte – orçado entre R$ 4 bilhões e R$ 5 bilhões. Os projetos começaram a ser feitos em 2013 e são frutos de um termo de compromisso assinado entre os governos estadual e federal. Mas, por falta de previsão orçamentária, a expansão planejada desde a estreia do serviço na cidade, na década de 1980, continua na gaveta.

Uma pequena parcela do dinheiro embolsado por políticos, empresários, lobistas, sindicalistas e até lideranças indígenas também permitiria o pleno funcionamento do Hospital Metropolitano Dr.
Célio de Castro, conhecido como Hospital do Barreiro. Inaugurado em dezembro de 2015, o hospital opera com apenas 20% de sua capacidade. O pleno funcionamento depende de repasses de verbas estaduais e federais. A estimativa é de que o custo médio da operação do prédio de 13 andares, com 12 mil metros quadrados de área construída, 129 leitos e uma ala de CTI, é de R$ 150 milhões anuais. Em março, o prefeito Alexandre Kalil (PHS) teve um encontro em Brasília com o ministro da Saúde, Ricardo Barros, e voltou com promessa da assinatura de um convênio entre a PBH e o governo federal para o repasse dos recursos necessários para o funcionamento pleno do hospital.

A propina da Odebrecht resolveria ainda o gargalo da educação infantil na capital mineira. Há hoje um déficit de cerca de 17 mil vagas para crianças de até 3 anos, conforme dados já anunciados pela Secretaria de Educação. E não é preciso muito para sanar o problema. Com o investimento de R$ 16,8 milhões, a PBH anunciou a criação de mais 1,3 mil vagas nas unidades municipais de Educação Infantil (Umeis). Fazendo um cálculo na mesma proporção, R$ 220 milhões levariam para a escola todas as crianças que estão à espera de uma vaga.

- Foto: Paulinho Miranda/EM/D.A.Press

Infraestrutura

Algumas obras viárias estariam garantidas com a “ajuda” da gigante da construção civil. Uma delas é a intervenção nos 27,3 quilômetros do Anel Rodoviário da capital. E as máquinas ainda não foram para a pista não só pela complexidade da revitalização em um via onde chegam a circular 120 mil veículos a cada dia. O projeto prevê a ampliação dos trechos em que a via se afunila abruptamente e construção de vias marginais em toda a sua extensão – o que demanda um gasto de R$ 1,5 bilhão.

O valor é alto, mas em um mesmo pacote daria para revitalizar o Anel e ainda duplicar a BR-381, orçada em cerca de R$ 5 bilhões. Na chamada Rodovia da Morte, os 303 quilômetros que ligam Belo Horizonte a Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, são considerados os mais perigosos, com as piores condições de tráfego e um traçado sinuoso que contribui para acidentes e mortes.

As obras já foram paralisadas várias vezes por falta de verbas e em razão de disputas judiciais que envolvem desocupações às margens da rodovia. E o que é pior: em entrevista ao Estado de Minas em janeiro, o próprio governador Fernando Pimentel (PT) reconheceu que não há perspectivas de avanços para este ano.

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