Brasília - Depois da paralisação nacional da última sexta-feira organizada por centrais sindicais e das críticas de aliados do governo como o senador Renan Calheiros (PMDB) às reformas, maio começa quente no Congresso Nacional com a discussão das mudanças na Previdência e legislação trabalhista. O governo tem pressa e mobiliza sua base pela aprovação, mas terá de trabalhar muito para quebrar resistências na própria base. Na Câmara dos Deputados, será na quinta-feira a votação, na comissão especial, do substitutivo que traz as novas regras para as aposentadorias no Brasil. As discussões em torno do relatório do deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA) sobre as alterações nas regras previdenciárias terminam amanhã. No Senado, começa nesta semana a tramitação da reforma trabalhista aprovada pelos deputados no dia 26. Assim que chegar à casa, o projeto será publicado, numerado e encaminhado para comissões temáticas.
As discussões sobre as alterações na legislação trabalhista devem gerar grandes embates no Senado. Assim como na Câmara, a proposta não deve encontrar consenso entre os senadores. Governistas e oposição já se manifestaram de maneira divergente.
Já as senadoras Ângela Portela (PDT-RR) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) avisaram ser contra a reforma que vai “precarizar” a situação dos trabalhadores, tirando-lhes direitos conquistados com sacrifício. Ambas criticam principalmente a parte do projeto que dá mais força ao que for negociado entre trabalhadores e patrões do que ao que está na lei, a chamada prevalência do negociado sobre o legislado.
Para ser aprovado, o projeto precisará de maioria simples, ou seja, metade dos senadores presentes mais um voto. A proposição a ser analisada prevê, além da supremacia do negociado sobre o legislado, o fim da assistência obrigatória do sindicato na extinção e na homologação do contrato de trabalho. Além disso, extingue a contribuição sindical obrigatória de um dia de salário dos trabalhadores. Há também mudanças nas férias, que poderão ser parceladas em até três vezes no ano e regras para o trabalho remoto, também conhecido como home office. Para o patrão que não registrar o empregado, a multa foi elevada e pode chegar a R$ 3 mil. Atualmente, a multa é de um salário-mínimo regional.
Para dificultar, não só a oposição critica.
MUDANÇA NAS LEIS TRABALHISTAS
Principais pontos do parecer da reforma:
» As férias poderão ser parceladas em três vezes ao longo do ano.
» A contribuição sindical, hoje obrigatória, passa a ser opcional.
» Patrões e empregados podem negociar, por exemplo, jornada de trabalho e criação de banco de horas.
» Haverá multa de R$ 3 mil por cada trabalhador não registrado. No caso de micro e pequenas empresas, o valor cai para R$ 800.
» O trabalho em casa (home office) entra na legislação e terá regras específicas, como reembolso por despesas do empregado.
» Juízes poderão dar multa a quem agir com má-fé em processos trabalhistas.
» Gestante pode trabalhar em ambiente insalubre desde que apresente atestado médico comprovando que não há risco para ela ou o feto.
Disputa por mais 12 votos
O discurso de outros parlamentares, no entanto, mostra que a vitória não será assim tão fácil. O deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), por exemplo, avalia que o governo já perdeu votações na questão do ajuste fiscal dos estados e não conseguiu uma vitória expressiva na reforma trabalhista. O petebista acredita que os votos contrários vão crescer com as manifestações de rua e com o maior esclarecimento da população.
A oposição promete se mobilizar para derrotar a reforma. O deputado Pepe Vargas (PT-RS) disse que vai votar contra, mas aceita discutir a questão de outra maneira: “Não tem negociação em torno desta proposta. Tem que ser rejeitada e aí se iniciar um debate sério sobre o futuro da Previdência, à luz da transição demográfica real que vai acontecer, à luz de uma previsão de desenvolvimento do país. Daí, sim, a gente pode fazer um debate.” .