Com sotaque mineiríssimo, a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, deu uma longa e descontraída entrevista na estreia do talk show do apresentador Pedro Bial, na noite de dessa terça-feira (2), na TV Globo.
Entre diversos assuntos debatidos, Cármen Lúcia, nascida em Montes Claros, garantiu a continuidade da Operação Lava-Jato e disse acreditar que o Brasil vai superar a crise política e econômica que já causa a maior recessão da história. Declarou também seu amor pela capital mineira e pelo escritor Guimarães Rosa e explicou para o apresentador – que é carioca – um pouco da alma do mineiro.
“A Lava-Jato não está ameaçada, não estará”. “Eu espero que aquilo que cantei como Hino Nacional a vida inteira, nós do Supremo saibamos garantir aos senhores cidadãos brasileiros, de quem somos servidores: ‘verás que um filho teu não foge à luta’”, afirmou a ministra, cuja entrevista foi gravada na segunda-feira e exibidana noite de anteontem. Ela afirmou ainda não ter noção de onde o país vai chegar depois dessa avalanche de denúncias de corrupção, mas disse crer que será em um “país melhor”. “O povo não quer mais isso (corrupção)”, disse a ministra, vestida discretamente de calça e blusa pretas.
Aliás, o tom otimista marcou toda a fala de Cármen Lúcia. Segundo ela, o país já viveu e venceu enormes crises desde a chegada dos portugueses e fará isso mais uma vez. “Eu queria que o Brasil acreditasse em duas coisas: dificuldades nós tivemos desde 1500 e vencemos tantas. Então, vamos vencer mais esta. E que, se estivermos unidos, nós temos mais chances. Eu continuo acreditando no Brasil”. No entanto, ela cobrou da população uma nova postura em relação a atos de corrupção e avaliou que a sociedade precisa aproveitar essa crise para se refazer. Para ela, não é possível cobrar ética do Estado e não respeitar uma fila: “Não é possível ficar furando fila e falando mal daquele outro que teve direito de furar a fila na licitação”, defendeu.
Amor a BH
Durante a entrevista, Cármen Lúcia disse amar a capital mineira e que pretende viver para sempre nela. “Eu só acho graça em Paris porque existe Beagá.” Explicou também para o apresentador a diferença entre “mineiro” e “geraizeiros”, como são conhecidos os povos tradicionais que moram no cerrado do Norte mineiro.
“Eu queria ser mineira, mas eu sou geraizeira, duas coisas completamente diferentes. Mineiro toma banana do macaco e deixa o macaco satisfeito, agradecido e devendo favor o resto da vida de uma maneira impressionante. O geraizeiro briga com o macaco quando ele pega a banana dele. O Gerais é o descampado, é o grande sertão. A Minas é das sombras, sem nenhum fatalismo geopolítico”. Também contou uma anedota sobre o jeito do mineiro de ser. “Ele ( o mineiro) fala assim: passa lá em casa, passo mais tarde. Só que quem convida não deseja e quem aceita não acredita. Então não tem erro, porque esse encontro não acontece nunca e ninguém fica com raiva”. Como não é “mineira”, a ministra disse que convida, “faz bolinho” e fica esperando tristemente a visita que não apareceu.