Depoimento de Lula e habeas corpus de Palocci definirão novas delações

Petistas aguardam depoimento do ex-presidente e julgamento do habeas corpus de Palocci para decidir se fecham delação premiada

Paulo de Tarso Lyra
A pedido de Edson Fachin, plenário do Supremo decidirá sobre a liberdade do ex-ministro Antonio Palocci - Foto: Nelson Jr./SCO/STF - 5/4/17

Brasília – A semana que começa é vista como uma das mais importantes para o futuro do Partido dos Trabalhadores desde que o início da Lava-Jato, em 2014. Isso porque três petistas considerados figuras centrais no esquema de desvios de recursos na Petrobras, o ex-diretor da estatal Renato Duque, o ex-tesoureiro da legenda João Vaccari Neto e o ex-ministro Antonio Palocci, esperam os acontecimentos desta semana para decidir se fecham um acordo de delação premiada e contam tudo o que sabem. O depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o julgamento do habeas corpus de Palocci no Supremo Tribunal Federal (STF), que devem acontecer entre amanhã e quinta-feira, são fatores que vão pesar na balança de quem cogita colaborar com a Justiça.

Como o habeas corpus do ex-ministro José Dirceu foi concedido pela Segunda Turma do STF, o julgamento de Palocci é considerado mais representativo para os próximos passos das investigações, pois será analisado por todos os ministros da corte. Caso seja seguido o entendimento que beneficiou Dirceu, crescem as chances de potenciais delatores recuarem, uma vez que poderão vislumbrar a possibilidade de deixar a cadeia. O relator da Lava-Jato no STF, ministro Edson Fachin, decidiu encaminhar o caso do ex-ministro da Fazenda ao plenário depois de a Segunda Turma, composta por cinco magistrados, se posicionar de maneira contrária às prisões preventivas alongadas impostas por Moro em três oportunidades.

Apesar de ter uma batalha mais árdua que Dirceu na Suprema Corte, Palocci estuda as opções que tem à sua frente. Não descarta o acordo com os procuradores, mas agora o ritmo é diferente e a tendência é de que ele reavalie a disposição de fechar o acordo de delação premiada.

Condenado duas vezes pela Lava-Jato por lavagem de dinheiro e corrupção passiva, Vaccari, no entanto, sempre resistiu em negociar com a Justiça. Duque já demonstrou disposição em colaborar. Pelo menos no depoimento que prestou na sexta-feira ao juiz Sérgio Moro, passou a impressão de não ter refluído na decisão de falar o que sabe.

“Lula sabia de todo o esquema de corrupção na Petrobras. E tinha comando sobre tudo”, admitiu Duque, colocado na Petrobras pelo PT.

INCÔMODO Para Antonio Augusto de Queiroz, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), as sentenças proferidas nas últimas semanas beneficiando réus da Lava-Jato demonstram um incômodo da Suprema Corte com a possibilidade de se manter encarcerado presos que ainda não foram condenados em segunda instância. “Não sei e nem acredito que isso vá se manter como tendência daqui para frente”, ponderou Toninho.

O professor de ciência política da Fundação Getulio Vargas Sérgio Praça lembra que, mesmo que outros réus da Lava-Jato recuem do ímpeto de fechar delação premiada, isso não significa que o PT e os governos de Dilma e Lula possam se sentir mais aliviados. “Tanta coisa já foi dita e revelada que há elementos suficientes para se analisar os fatos. Acho, inclusive, que, no caso de Palocci, instituições do Sistema Financeiro Nacional deveriam ficar mais preocupadas do que Lula e Dilma”, completou o professor.

A situação do PT é tão delicada que até mesmo a libertação de José Dirceu da cadeia é vista com reserva por parlamentares da legenda. Isso porque ele já emitiu sinais de que pretende operar politicamente na legenda e defendeu que o partido faça uma oposição aguerrida. Na visão de petistas renomados isso atrairá ainda mais antipatia para a legenda. “O PT está em uma tentativa de reconstrução, com Lula subindo nas pesquisas. Dirceu é considerado o bandido número 1 do país por parte da população”, lamentou um petista.

 

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