Era 3 de junho de 2014 e a Lava-Jato estava nas ruas desde março.
"Certamente encontrei, se está na minha agenda, encontrei", respondeu Lula, ouvido pela primeira vez como réu da Lava-Jato, em Curitiba. O petista é réu, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, por suposto recebimento de R$ 3,7 milhões em propinas da OAS, no tríplex do Guarujá (SP), que Lula afirma não ser dele e no custeio de armazenamento de bens presidenciais.
"O senhor se recorda qual o assunto tratado?", continuou o procurador. "Não. Pode ser viagem, pode ser a economia brasileira, que nesse momento estava numa situação muito delicada, pode ser a questão eleitoral", respondeu Lula.
O procurador quis saber se as apurações do escândalo Petrobras foram tema da conversa. "O senhor tratou da Lava-Jato?". "Não", respondeu o ex-presidente.
PMDB
"Nessa data consta uma reunião do senhor com Léo Pinheiro às 17 horas e uma reunião antes com Sérgio Machado, da Transpetro?", questionou Noronha. Lula mostrou surpresa: "Na mesma data?".
"O Sérgio Machado foi me convidar para a inauguração de um navio porque eu tomei uma atitude de colocar nome em um navio de personalidades brasileiras históricas, por exemplo, recuperar o nome do marechal negro Antonio Cândido, de colocar de Sérgio Buarque, de colocar de pessoas muito importantes da política brasileira, que tava esquecido. E ele foi me levar alguns modelos, uma réplicas de navios já feita pela Petrobras", disse Lula.
O registro da agenda do ex-presidente foi entregue pelo próprio Léo Pinheiro, que tenta um acordo de delação premiada com a Lava-Jato, pela segunda vez, e confessou há 20 dias a Moro que o tríplex do Guarujá era do ex-presidente e foi propina por negócios da OAS.
Machado é um dos mais de 140 delatores da Lava-Jato. Em maio de 2016, conversas gravadas por ele com integrantes da cúpula do PMDB para tentar obstruir os avanços da investigação abalaram o partido do então governo interino de Michel Temer (PMDB).
Nos diálogos, apareceram Romero Jucá, então ministro, o ex-presidente José Sarney e o senador Renan Calheiros, então presidente do Senado. Num deles, Machado e Jucá discutem sobre como "estancar" a Lava-Jato - o que acabou provocando sua queda do Ministério do Planejamento, após a repercussão.
As conversas com os graduados peemedebistas, sugerem desde um "pacto nacional" com o Judiciário para evitar que a Lava-Jato avançasse sobre novos políticos, até mesmo a tentativa de contato com pessoas "próximas" ao ministro Teori Zavascki, morto em janeiro, então relator da operação no Supremo Tribunal Federal (STF).
Um mês antes, em março, a Odebrecht iniciava oficialmente as tratativas para a maior delação premiada do escândalo Petrobras - ue arrastou políticos de todo espectro partidário para o foco.
Reuniões
Lula também foi questionado sobre reuniões realizadas com Léo Pinheiro e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, em um mesmo dia de julho de 2014.
"Registro de reunião do dia 25 de julho de 2014. O senhor se encontrou com Léo Pinheiro nessa data?", perguntou o procurador. "Se está aqui eu devo ter me encontrado. Não tem porque colocar dúvida", respondeu Lula.
Noronha perguntou se ele recordava qual foi o assunto tratado. "Não sei o que foi tratado ou não", respondeu o petista.
"Nesse dia consta uma reunião às 16 horas com Léo Pinheiro e uma reunião com João Vaccari Neto às 14h30", continuou o procurador.
"Não vou saber se encontrei com João Vaccari em 25 de julho. Agora, se está aqui na minha agenda, e essa agenda foi feita pelo meu pessoal, certamente eu me encontrei", disse Lula.
O procurador insistiu se ele recordava o assunto da conversa com Vaccari e especificou o interesse: "Houve algum assunto comum que o senhor tratou com João Vaccari e Léo Pinheiro nessa data?". "Não", respondeu o ex-presidente.
"Tratou do tríplex nessa data?", questionou Noonha. "Vou reforçar aqui, o Vaccari nunca tratou comigo de tríplex", disse Lula..