'As decisões dependiam da palavra final do chefe', diz João Santana sobre Lula

Em delação premiada, marqueteiro afirmou que o ex-presidente Lula sabia de pagamentos feitos à empresa dele no exterior

Isabella Souto
João Santana e Mônica Moura foram presos durante a 23ª fase da Operação Lava-Jato. No acordo de delação, acertaram a devolução de R$ 6 milhões - Foto: Gisele Pimenta/FRAMEPHOTO/AE

Em depoimento à Procuradoria Geral da República (PGR), em acordo de delação premiada, o marqueteiro João Santana afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sabia dos pagamentos feitos à empresa dele fora do país.

O marqueteiro foi o responsável pelas campanhas presidenciais de Lula em 2006 e de Dilma Rousseff (PT), em 2010 e 2014.

Segundo ele, o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci era o interlocutor de Lula e sempre dizia que as decisões definitivas dependiam da “palavra final do chefe”.

Na delação, João Santana disse ainda que participou de encontros com Palocci nos quais ficou claro que Lula “sabia de todos os detalhes, de todos os pagamentos por fora recebidos pela Pólis (a empresa de Santana)".

Ainda de acordo com Santana, “em momentos críticos de inadimplência” durante as campanhas, era ele quem dava o "alerta vermelho" com a ameaça de interrupção dos trabalhos.

Também em delação, a empresária Mônica Moura, mulher de João Santana, afirmou que o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), levou até ela uma mala com R$ 800 mil em espécie para quitar uma dívida de campanha do então candidato a prefeito de Belo Horizonte, Patrus Ananias (PT).

A empresária disse que avisou Pimentel sobre a impossibilidade de transportar o valor, e que o hoje governador prometeu encontrar uma forma de enviar os recursos à capital mineira.

Como uma das provas do relato, Mônica anexou cópias de passagens de voos dela entre o Rio de Janeiro e São Paulo em 15 de fevereiro de 2013 e identificou o funcionário seu que recebeu os recursos posteriormente em Belo Horizonte.

Dilma Bolada

Mônica Moura revelou ainda que, a pedido do então ministro dos Esportes, Edinho Silva, a agência dela e de João Santana pagou R$ 200 mil para o humorista Jeferson Monteiro, criador do personagem Dilma Bolada.


No acordo de delação, o casal de marqueteiros acertou com a PGR o pagamento de multa de R$ 6 milhões – R$ 3 milhões  para cada um – e se comprometeu com os procuradores da República a abrir mão de US$ 21,6 milhões depositados em uma conta na Suíça.


Eles foram condenados a 8 anos e 4 meses de prisão na Operação Lava-Jato e prestaram depoimentos do acordo de delação premiada com a PGR entre 6 e 8 de março.

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