Em sua delação premiada, João Santana conta o episódio de um jantar no Palácio da Alvorada, em que se reuniu com o então presidente Lula e o núcleo duro da campanha de Dilma para tratar das eleições de 2010.
Ele estava profundamente exasperado dizendo que não ia coligar (com o PMDB). Que se dependesse dele, não ia coligar com o PMDB, porque o PMDB estava fazendo exigências absurdas, disse Santana aos procuradores.
Tá ficando impossível atender as exigências do PMDB, afirmou Lula, conforme o depoimento do marqueteiro.
O delator não soube detalhar quais seriam as exigências absurdas do PMDB para fazer parte da chapa de Dilma. Segundo Santana, em sua forma de interpretação, as exigências poderiam ser tanto políticas, envolvendo loteamento futuro de cargos na administração pública, quanto apoio financeiro, ou uma combinação das duas coisas.
Ele (Lula) estava profundamente exasperado, irritado, afirmou Santana. Conseguir o apoio do PMDB era considerado fundamental para a campanha, devido principalmente ao tempo que o partido teria a oferecer a Dilma no horário eleitoral.
De acordo com o delator, na época do jantar ainda se discutia o nome de quem seria o vice da petista. Entre os nomes cogitados, estavam o do então vice-presidente José Alencar, mas a imposição do PMDB foi pelo nome de Michel Temer.
A preferência do Lula era Nelson Jobim, que seria o candidato ideal, disse Santana.
Perfil.
O marqueteiro conta que, desde o início, estava claro que Temer não somava nada à campanha do ponto de vista eleitoral.
Nós fazemos teste de perfil de vice. O Temer não tinha um perfil, nunca teve. Era pouco conhecido e onde era conhecido, sofria críticas.
Em seu depoimento, Santana também revelou detalhes sobre sua estratégia ao elaborar o marketing político de campanhas eleitorais.
Uma candidata com baixíssimo nível de conhecimento, como era Dilma, obviamente precisa de mais tempo (no horário eleitoral). Quanto menor o índice de conhecimento tem um candidato, necessita de mais tempo. Vem daí as grandes coligações. Quem tem o poder político e econômico tem mais possibilidades, afirmou.
Independente da circunstância específica de um candidato, com a experiência eu adquiri uma média, que na minha cabeça, eu dizia Nunca menos de 8 minutos (de horário na TV) e nunca mais de 10. Porque 10 é over, e menos de 8 você não tem tempo pra fazer uma campanha, contou o marqueteiro.
Com a palavra, a defesa de Lula
Em nota enviada à imprensa, o advogado Cristiano Zanin Martins, defensor de Lula, afirmou que a Lava Jato investe numa fábrica de delatores para falarem o nome de Lula em troca de vantajosos benefícios. Mas a palavra de delator não tem valor de prova, segundo a lei, ao contrário da palavra de testemunhas, diz a nota.
Com a palavra, as assessorias do PMDB e do presidente Michel Temer
Até a publicação deste texto, as assessorias do PMDB e de Temer não haviam respondido à reportagem.
(Rafael Moraes Moura).