Lula respondia perguntas do procurador da República Roberson Pozzobon, um dos três procuradores que representaram o Ministério Público Federal na audiência histórica - foi a primeira vez que o petista depôs como réu da Lava Jato no caso tríplex.
Pozzobon fez referência a duas situações ao indicar o que chamou de prova documental lançada no anexo 197 da denúncia.
A planilha encontrada em uma sala da Bancoop, no centro de São Paulo, é datada de 9 de dezembro de 2008 e consolida a situação dos apartamentos do Solaris. O documento mostra a relação de todas as unidades do edifício e nele consta os nomes dos proprietários ou a expressão estoque - em referência exclusivamente a apartamentos disponíveis para venda. A planilha indica o apartamento 174 ao lado da anotação vaga reservada.
Depois, o procurador informou que na residência de Lula, em São Bernardo do Campo, no Grande ABC, foram encontrados documentos relativos ao apartamento 174. Aí dirigiu a pergunta a Lula. Considerando que no próprio Termo de Compromisso há uma rasura na proposta de adesão que foi assinada por sua esposa, sra. Marisa Letícia, em que a Polícia Federal detectou que havia um número 174 embaixo do número 141 sobreposto, rasurado, eu pergunto se era para o sr e para sua família que essa unidade tríplex 174 estava reservada?
Eu digo pro sr., não, respondeu secamente o ex-presidente.
Lula sugeriu. Só tem alguém que pode responder que é a Bancoop.
O procurador insistiu na linha de acusação, agora destacando o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e ex-presidente da Bancoop - preso desde abril de 2015 na Lava Jato.
Lula interrompeu. Eu vou repetir, eu vou repetir. Eu só tive contato sobre o famoso apartamento lá no Guarujá no ato da compra da cota (em 2005) e em 2013 quando Léo (Pinheiro, ex-presidente da OAS) me procurou que eu tinha que cuidar de ver o apartamento. Só! Qualquer outra pergunta você pergunta pro Léo ou prá Polícia Federal ou
Pozzobon foi adiante. Eu pergunto porque cumprimos aqui uma função constitucional, precisamos esclarecer, o sr. fica à vontade para esclarecer.
Lula devolveu. Eu sei, eu conheço o papel do Ministério Público.
O procurador insistiu. Só finalizando, esse documento que foi encontrado na sua residência, por ocasião da busca e apreensão (apartamento de Lula em São Bernardo do Campo, março de 2016), em que consta a informação do apartamento 174 Edifício Návia, o sr não tinha conhecimento?
Eu tenho a certeza que a Polícia Federal conheceu mais o dito lugar que ela diz que encontrou esse documento do que eu, ironizou o ex-presidente.
E lançou um desafio. Procurador, deixa eu dizer uma coisa ao sr. Eu me preparei pra não ficar nervoso como algumas pessoas ficam. Eu vim aqui pra dizer a mais absoluta verdade.
(Fausto Macedo, Julia Affonso).