Em meio ao clima pesado que se instalou na sala de audiências da Justiça Federal em Curitiba, base da Lava Jato, durante o longo interrogatório a que foi submetido na quarta-feira, 10, pelo juiz Sérgio Moro, o ex-presidente Lula disse ter admiração pelo cantor Zeca Pagodinho.
Jessé Gomes da Silva Filho, 56, é o Zeca Pagodinho, sambista, que gravou sucessos como Verdade, Ogum, Lama nas Ruas, Deixa a Vida me Levar e Minha Fé.
A revelação de Lula sobre sua simpatia pelo cantor se deu no trecho do interrogatório em que o juiz o indagou seguidamente sobre troca de e-mails entre executivos da OAS, empreiteira que teria bancado reformas e a instalação de cozinha de alto padrão no tríplex do Guarujá e também no sítio de Atibaia - ambas as propriedades a Lava Jato suspeita pertencer ao petista, o que é negado categoricamente por sua defesa.
Moro fez referência a uma contabilidade informal da empreiteira relativa a fluxo de recursos destinados aos dois empreendimentos. Nos e-mails, os executivos indicam a existência de centro de custos por eles denominado Zeca Pagodinho, um para o apartamento no litoral paulista, outro para a área rural do interior.
O juiz perguntou a Lula, em meio a constantes interrupções dos advogados de defesa, sobre o teor de um mensagem resgatada pelos peritos criminais federais. O texto faz parte do laudo 1475 e se refere aos projetos de reforma e implantação de cozinhas.
Ok, vamos começar quando? Vamos abrir dois centros de custos, um Zeca Pagodinho sítio e o segundo Zeca Pagodinho praia.
Eu indago, seguiu o magistrado, o sr. não teve conhecimento do tratamento dessas reformas de implantação de cozinha do apartamento do Guarujá e do sítio de Atibaia concomitantemente pela OAS?, questionou o juiz.
Você sabe que no depoimento do Léo (Pinheiro, ex-presidente da empreiteira e ex-amigo do petista), quando eu ouvi ele falar Zeca Pagodinho eu até gostei. Porque eu gosto muito do Zeca Pagodinho e fiquei sabendo no depoimento, porque ele (Léo) nunca me falou que me chamava de Zeca Pagodinho.
Em seguida, o ex-presidente esquivou-se. Mas não houve essa conversa, sabe, comigo. Se houve entre eles é problema deles.
Nessa etapa do interrogatório, orientado por seus defensores, Lula não respondeu nenhuma pergunta sobre o sítio - alvo de outra investigação, desvinculada formalmente do processo do tríplex.
Na ação do imóvel do Condomínio Solaris, Guarujá, Lula é réu por corrupção e lavagem de dinheiro.
O sr. ex-presidente também não teve conhecimento de que (executivos da OAS) teriam tratado desse assunto em conjunto?, insistiu o juiz.
Não, comigo não.
A defesa, aqui, uma vez mais interrompeu alegando que o processo do tríplex cuida exclusivamente de três contratos entre a empreiteira e não sobre acusação relativa ao sítio.
Moro esclareceu que os dois imóveis são tratados simultaneamente nas mensagens de e-mail que constam dos autos do caso tríplex, daí a necessidade da reprodução em audiência dos trechos completos.
Como aparentemente consta nessas mensagens que os projetos da cozinha do apartamento em Guarujá e da cozinha do sítio teriam sido submetidos à sua esposa (Marisa) em 2014 para aprovação o sr. tinha conhecimento disso?, seguiu o juiz.
Não tomei conhecimento.
Esses projetos foram também submetidos ao sr?
Não.
O sr. Léo Pinheiro esteve com o sr. ex-presidente no sítio ou em São Bernardo (onde Lula mora) para discutir reforma ou com algum outro propósito em 2014?
Eu não posso responder, doutor. Eu não posso responder por e-mails ou por telefonemas entre terceiros, doutor. Eu aqui posso muito responder pelo que eu fiz ou pelo que eu não fiz.
(Fausto Macedo, Julia Affonso, Ricardo Brandt e Luiz Vassallo).