Congresso Nacional é negligente com criança e adolescente, diz pesquisa

Fundação Abrinq lança nesta terça-feira (16) o Caderno Legislativo da Criança e do Adolescente, que apresenta os projetos em tramitação no Legislativo que serão prioridade

Estado de Minas
Um monitoramento feito pela Fundação Abrinq mostra que apenas uma em cada 100 proposições que afetam diretamente a criança e o adolescente conclui a tramitação no Congresso Nacional anualmente.  Atualmente, 3.010 propostas tramitam na Câmara e no Senado.

A fundação lança nesta terça-feira (16) o Caderno Legislativo da Criança e do Adolescente, que apresenta os projetos em tramitação no Legislativo que serão prioridade.
São propostas que causam impacto direto  na qualidade de vida da população de 0 a 17 anos.

Em 2016, 23, ou 0,8%, dos 2.769 projetos de lei (PLs), propostas de emenda constitucional (PECs) e outras proposições tiveram as análises concluídas pelo Legislativo e Executivo, o que significa que 99% dos textos que tratam dos direitos da infância e do adolescente aguardam avaliação do Congresso.

A proporção se manteve em anos anteriores. Em 2015, das 1.486 propostas monitoradas, 15 concluíram a tramitação, sendo que uma foi sancionada e 14 arquivadas.

Segundo a administradora executiva da Fundação Abrinq, Heloisa Oliveira, por um lado, os projetos ligados à infância e adolescência muitas vezes não têm prioridade na tramitação. Por outro, há um excesso de produção de projetos.

“A produção legislativa é excessiva e a visão da necessidade de aperfeiçoamento de leis , superficial. Têm propostas que se repetem, com mais de 50 apensadas. Isso significa que mais de 50 parlamentares tiveram a mesma ideia. Não há atenção para o que está tramitando”, diz Heloisa.

Até o ano passado, as áreas de educação e saúde concentravam os maiores números de projeto - 838 (30%) dizem respeito à educação e 361 (13%), à saúde. “Muitas vezes, para preencher uma lacuna ou um vazio na política pública, parlamentares tentam propor nova lei, quando na verdade era necessária uma política mais eficiente”, acrescenta a administradora.

Direitos das crianças

Um em cada três projetos em tramitação na Câmara ou no Senado não está de acordo com a defesa integral dos direitos da criança e adolescente no Brasil, segundo avaliação da Abrinq.
“Muitas vezes, há má definição da proposta, que acaba não sendo passível de ser executada. Em outras, o parlamentar tem um olhar superficial de política pública. Não enxerga o problema imenso real, olha só o fim da linha”, afirma Heloisa.

Uma das propostas com a qual a fundação não concorda é o Projeto de Lei do Senado (PLS) 193/2016, que institui o programa Escola sem Partido. Na avaliação da Abrinq, é inconstitucional violar o direito à liberdade de manifestação do pensamento, impedir o pluralismo de ideias, vulnerar o princípio da igualdade e colocar os docentes sob constante censura.

Outra é a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 115/2015, que visa a reduzir a maioridade penal, hoje fixada aos 18 anos, para os adolescente que praticarem atos infracionais equivalentes a crimes hediondos. A Abrinq também não concorda, pois entende que não se pode negar ao adolescente a sua condição de pessoa em formação, nem desistir da ressocialização. "A PEC representa um retrocesso ao ECA e não serve de solução para a violência", defende a fundação.

“O Brasil enfrenta o problema de evasão escolar, onde falta educação integral para todos. Temos jovens que, sem a estrutura adequada para o desenvolvimento, cometem atos infracionais. Vamos resolver reduzindo a maioridade penal? A causa é uma falta de proteção anterior”, complementa Heloisa.

Projetos favoráveis

Entre as propostas que têm o apoio da Abrinq está  o PLS 271/2015, para dobrar o repasse de recursos destinados à alimentação escolar em municípios de extrema pobreza, com pelo menos 30% da população com renda per capita familiar de até R$ 63,75. A Abrinq defende que sejam incluídos no texto os municípios em situação de pobreza, ampliando o número de crianças e adolescentes beneficiados.

Outro projeto é o PL 4.968/2016, que altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) para reduzir a jornada de trabalho para a mãe lactante até os seis meses de vida da criança. Em um país onde a maioria das empresas não dispõe de berçário, a redução de jornada em uma ou duas horas estimularia a mãe a exclusivamente amamentar o bebê nos seis primeiros meses, seguindo a recomendação da Organização Mundial da Saúde.

O projeto que torna permanente o financiamento da educação por meio da inclusão de dispositivos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) na Constituição também é uma das prioridades da fundação. A Abrinq é favorável ao PL 7.420/2006, com a ressalva de que é necessário definir melhor o que caberá à União, aos estados e municípios.

Para que organizações e entidade acompanham os temas da infância e adolescência, a Abrinq disponibiliza o Observatório da Criança e do Adolescente, banco de dados online que reúne as mais de 3 mil propostas atualmente em tramitação, que dizem respeito à faixa etária. (Com Agência Brasil).