São Paulo - Um dos anexos da delação premiada de Joesley Batista, da JBS, cita que o presidente Michel Temer (PMDB) se encontrou com o empresário no dia 7 de março deste ano e vazou a informação de que os juros cairiam "1%" na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, no mês seguinte.
Entre os assuntos listados na delação sobre o encontro, a antecipação do corte da Selic é listada como o primeiro item: "comentários gerais sobre assuntos econômicos, havendo Temer vazado a informação de que os juros cairiam 1% na próxima reunião do Copom". A reunião do Copom ocorreu pouco mais de um mês depois, no dia 12 de abril, quando o BC resolveu cortar a taxa básica de juros em um ponto porcentual, para 11,25% ao ano.
Foi neste mesmo encontro que Joesley Batista procurou tranquilizar Temer sobre o risco de delações premiadas e disse que estava "cuidando" do ex-deputado Eduardo Cunha e de Lucio Funaro, ao que o presidente respondeu: "importante manter isso". O anexo da delação relata que o empresário disse, ainda, que estava "tranquilo" em relação às investigação contra ele porque entrou "em ajustes com autoridades do sistema de Justiça".
Na mesma conversa, segundo o documento da colaboração, o empresário relatou que estava pedindo celeridade na aprovação de leis que anistiassem o caixa 2 e atualizassem a legislação sobre o abuso de autoridade. "Não havia segurança de que as coisas se manteriam tranquilas para ele por muito mais tempo, tudo como forma de preservar o canal", diz o documento.
Na sequência, Joesley pediu a Temer que indicasse um interlocutor para tratar de assuntos entre os dois. Foi aí que Temer indicou Rodrigo Rocha Louros, "dizendo que era pessoa de sua mais estrita confiança".
O empresário pediu ao presidente que "encontrasse solução" com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para os assuntos do Grupo JBS. Ele exemplificou com temas relativos ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), vinculado ao Ministério da Justiça, e à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), diz o anexo.
O empresário indicou, por fim, que o método para a visita - durante horário noturno avançado e entrada discreta - havia funcionado bem e poderia ser aplicado em outras ocasiões, o que Temer concordou, segundo a delação.
Os documentos foram entregues à Procuradoria-Geral da República (PGR).O anexo 9 trata do presidente e tem como título: 'Fatos diretamente corroborados por elementos especiais de prova Michel Temer'.