Interceptação telefônica feita pela Polícia Federal aponta que o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) pediu ajuda a Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), para convencer o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) a seguir a posição dele na votação do projeto que trata da lei de abuso de autoridade. Gilmar concorda. A conversa foi gravada na manhã de 26 de abril, dia em que o Senado aprovou, na Comissão de Constituição de Justiça e no plenário, o projeto que modifica a lei.
A autorização para a gravação dos telefones de Aécio partiu do ministro Edson Fachin, do STF, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), em ação ligada à Operação Patmos, deflagrada com base nas delações da JBS - 16 números foram grampeados.
Diz trecho do relatório da PF após 15 dias de interceptação de um celular do tucano: “Aécio Neves diz a seu interlocutor para ligar para o senador Flexa e dizer que acompanhe sua posição (‘acompanha a posição do Aécio lá...’). Gilmar concorda e diz que já havia falado com Anastasia e Tasso, provavelmente os senadores. Observa-se que na referida data ocorria procedimento legislativo referente ao projeto de Abuso de Autoridade no Senado Federal”.
Segundo a PF, os dois senadores citados por Gilmar Mendes seriam os tucanos Tasso Jeireissati e Antonio Anastasia.
“Você sabe um telefone que você poderia dar que me ajudaria na condução lá. Não sei como é sua relação com ele, mas ponderando... enfim, ao final dizendo que me acompanhe lá, que era importante... era o Flexa, viu?’’, disse Aécio a Gilmar, que respondeu. “O Flexa, ‘tá’ bom, eu falo com ele’’.
O ministro se manifestou por meio de nota de sua assessoria. “Desde de 2009 o ministro Gilmar Mendes sempre defendeu publicamente o projeto de lei de abuso de autoridade, em palestras, artigos e entrevistas, não havendo, no áudio revelado, nada de diferente de sua atuação pública.”
Gilmar Mendes é relator de dois inquéritos que têm como alvo Aécio Neves no STF.
(Breno Pires e Rafael Moraes Moura)