Em pronunciamento, Temer ataca delator e diz que vai ao STF para anular inquérito

O presidente afirmou que as investigações não podem continuar enquanto não houver perícia

Juliana Cipriani

'Prejudicou o Brasil, enganou os brasileiros e agora mora nos Estados Unidos', defendeu-se Temer, referindo-se ao empresário Joesley Batista - Foto: AFP / EVARISTO SA


O presidente Michel Temer (PMDB) reagiu, neste sábado, ao depoimento do dono da JBS, Joesley Batista, a quem acusou de adulterar gravações para tentar incriminá-lo e invalidar o país. Em novo pronunciamento à nação, Temer disse que recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender o inquérito aberto contra ele “até que seja verificada em definitivo a autenticidade desta gravação clandestina”.

Na fala, Temer afirmou ainda que foram armados flagrantes para pegar alguns “enquanto criminosos fugiam para o exterior”.

“O autor do grampo está livre e solto nas ruas de Nova York e o Brasil, que já tinha saído da mais grave crise econômica, vive agora – sou obrigado a reconhecer – dias de incerteza. Ele (Joesley) não passou um dia na cadeia, não foi preso, julgado e ne punido e pelo jeito não será”, afirmou.

Crime perfeito


Temer segue dizendo que Joesley “cometeu o crime perfeito” e ainda “especulou contra a moeda nacional”.

Ele diz que a notícia da delação foi vazada por alguém do grupo empresarial e que, de posse da informação privilegiada, os donos da JBS compraram US$ 1 bilhão "porque sabiam o caos que isso provocaria no câmbio". Eles também venderam ações da empresa sabendo que a bolsa iria despencar.

"A JBS lucrou milhões e milhões de dólares em menos de 24h", afirmou o presidente, reforçando que a ação está sendo investigada pela Comissão de Valores Mobiliários.

Temer disse ainda que o Joesley teve empréstimos bilionários do BNDES nos últimos governos para fazer seus negócios avançar. "Prejudicou o Brasil, enganou os brasileiros e agora mora nos Estados Unidos", disse. De acordo com o presidente, seu governo moralizou o banco e isso estaria incomodando.

Gravação manipulada


Segundo o presidente, desde a divulgação dos áudios da conversa dele com Joesley, houve perícias que mostraram cortes. “Essa gravação clandestina foi manipulada e adulterada com objetivos nitidamente subterrâneos, incluída no inquérito sem a devida e adequada verificação, e levou muitas pessoas a um engano induzido e trouxe grave crise ao Brasil”, disse. Temer disse ousar dizer que houve “mais de 50 edições” no áudio.


No pronunciamento, Temer disse, ainda, que o conteúdo das delações de Joesley e do diretor de Relações Institucionais da JBS, Ricardo Saud, não é o mesmo das gravações. "Isso compromete a lisura de todo o processo por ele desencadeado", diz.

O presidente afirma que na gravação, Joesley reclamava de medidas e integrantes de seu governo, o que mostra que ele não estava aberto ao empresário.

Fanfarronice


Sobre o trecho no qual os dois falam de Eduardo Cunha, o presidente ressalta que Joesley apenas disse estar de bem com o ex-deputado e que ele disse que tinha de continuar assim. "Não há crime em ouvir reclamações e melindres de um interlocutor, indicando outra pessoa para ouvir suas lamúrias", afirma.

Temer disse ainda ter pensado que era mentira a declaração de Joesley, de que teria tentado influenciar um juiz e um procurador nas investigações da Operação Lava-Jato. "Não acreditei na narrativa do empresário de que teria segurado juízes. Ele é um conhecido falastrão, exagerado, e depois disse em depoimento que havia inventado essa história, que não era verdadeira, era uma fanfarronice", argumentou.

Atentado ao vocabulário


Temer diz ainda que os delatores atentaram contra sua inteligência e o seu vocabulário. "Houve falso testemunho à Justiça. Chegaram ao desplante de me atribuir frases ou palavras chulas", disse.

O presidente encerrou o discurso dizendo, mais uma vez, que seu governo continua. "Tentaram macular não só a reputação moral do presidente da República, mas invalidar o nosso país. Mas digo, com toda a segurança, que o Brasil não sairá dos trilhos. Continuarei à frente do governo", finalizou..