A coincidência dos debates e votação dessas matérias no Congresso, em abril, com a 55.ª Assembleia-Geral da CNBB em Aparecida levou vários bispos a se pronunciarem sobre a convocação da greve geral, incentivando os fiéis a sair às ruas para exigir do governo um indispensável diálogo. Outros 60 pegaram o microfone do plenário para se manifestar a favor dos protestos do povo contra as reformas consideradas prejudiciais aos direitos dos trabalhadores.
Os bispos que tomaram posições próprias, ao orientar seus diocesanos sobre as manifestações, foram além das mensagens da CNBB, porque falaram concretamente da greve.
"No momento atual, não se pode calar diante de tanta dificuldade", alerta o arcebispo de Olinda e Recife, d. Antônio Fernando Saburido, citando as reformas da Previdência e da CLT, "que estão sendo impostas de cima para baixo sem diálogo, com pressa, prejudicando sobretudo os pobres". Em sua avaliação, os bispos que, como ele, incentivaram seus diocesanos a sair às ruas seguem a orientação da CNBB e não devem, por isso, ser considerados de esquerda.
Nomes como o de d.
Autonomia
Cada bispo tem autonomia para se dirigir a seus fiéis, no âmbito de sua diocese. A lista de quatro arcebispos que defenderam o apoio à greve, com críticas explícitas ao governo, não inclui nomes de progressistas que, nos anos de ditadura e de censura, lutavam na linha de frente contra a arbitrariedade.
"A Igreja está mais atenta, mais sensível", comentou d. Demétrio Valentini, bispo emérito de Jales, comemorando as últimas mensagens do episcopado. D. Demétrio faz parte de uma geração de bispos atuantes que se aposentaram, estão doentes ou já morreram, como d. Hélder Câmara e d. Paulo Evaristo Arns, ambos falecidos.
Para o representante dos bispos no Conselho do Episcopado Latino-americano e do Caribe (Celam), a situação está confusa. O episcopado ficou constrangido com o impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, porque esperava que o houvesse mais debate, e agora se preocupa em exigir esse diálogo.
O posicionamento político certeiro não ecoa, contudo, em todos os setor da CNBB. O ex-presidente da entidade e arcebispo de Mariana, d. Geraldo Lyrio Rocha, advertiu que "a Igreja não é partido político, não é sindicato, não é ONG".