Ministros e assessores de Temer são os principais alvos nas investigações

Ministros e assessores de Temer que dispõem de acesso irrestrito ao gabinete presidencial estão entre os principais alvos nas investigações por corrupção

Paulo de Tarso Lyra
Padilha aparece nas delações da Odebrecht como um dos participantes da reunião que acertou propina para o PMDB - Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

A prisão, na manhã de ontem, do assessor especial da Presidência Tadeu Filippelli, no âmbito das investigações de um esquema de superfaturamento nas obras do estádio Mané Garrincha, aumentou o número de inquilinos do Palácio do Planalto que enfrentam problemas com a Justiça.
 
São pessoas próximas do presidente que integram sua cota pessoal de nomeações e, em geral, têm o chamado “poder da maçaneta”, por terem livre acesso ao gabinete presidencial praticamente em qualquer momento.

O único que tem se mantido a salvo é o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy. Citado nas delações da Odebrecht, o tucano não foi denunciado na lista encaminhada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para o Supremo Tribunal Federal (STF).

A lista começa pelo presidente Michel Temer. Ele, que no início do ano estabeleceu uma “nota de corte” para a exoneração de ministros — definindo que aqueles que se tornassem réus seriam afastados e os condenados seriam exonerados — passou a ser, desde a quinta-feira passada, alvo de um inquérito aberto pelo ministro do STF Edson Fachin por obstrução de Justiça. Os advogados do presidente desistiram de pedir a suspensão do inquérito e aguardam a perícia no áudio entregue pelo empresário Joesley Batista, dono da JBS, para traçar a estratégia de defesa.

Os dois ministros mais próximos do presidente também estão com a vida complicada. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, foi citado nas delações da Odebrecht com o codinome Gato Angorá, pelo qual era conhecido. Ele é acusado de pedir propinas para a campanha política de 2014.

Moreira começou o governo como secretário do Programa de Parceria de Investimento e tornou-se ministro no início deste ano. Na época, a nomeação foi questionada pela oposição, que comparou a situação com a do ex-presidente Lula, nomeado por Dilma para a Casa Civil como uma maneira de conseguir o foro privilegiado. O STF, contudo, autorizou a nomeação.

O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, um dos principais articuladores políticos do governo, também aparece, nas delações da Odebrecht, com o codinome Primo.
Ele é apontado como um dos participantes da reunião de Temer com executivos da empresa que acertou a doação de R$ 10 milhões da empreiteira para campanha do PMDB, via caixa 2.

O segundo escalão palaciano não fica atrás. O primeiro a ter atividades suspeitas reveladas foi José Yunes. Nomeado assessor especial, ele foi acusado pelo ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho de ceder o próprio escritório para o recebimento de propinas a políticos do PMDB em 2014.  Depois que pediu exoneração, ele mesmo admitiu ter sido usado para levar um envelope para Padilha.

Antes de Filippelli, quem também complicou-se legalmente foi o deputado afastado Rodrigo Rocha Loures. Ex-chefe de gabinete de Temer na vice-presidência e assessor especial do Planalto quando o peemedebista chegou ao poder, Rocha assumiu o mandato de deputado federal após a nomeação de Osmar Serraglio (PMDB-PR) para o Ministério da Justiça. Ele aparece na delação da JBS como o responsável por pegar a mala de dinheiro para o PMDB.

S&P ameaça rebaixar SP, SC e cidade do Rio


A agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) colocou a nota de três governos estaduais brasileiros em observação (CreditWatch) negativa ontem, um dia após de ter feito o mesmo com a nota de risco soberano do Brasil, devido à atual crise política e às incertezas no avanço das reformas. Os ratings de longo prazo em moeda estrangeira e em moeda local na escala global dos estados de São Paulo e de Santa Catarina e o da cidade do Rio de Janeiro podem ser rebaixados em até 90 dias.  “A inclusão na listagem CreditWatch com implicações negativas reflete o aumento do risco de que uma solução lenta dos recentes acontecimentos políticos cause rupturas”, disse a agência, acrescentando que “os desafios econômicos e fiscais continuam crescendo”..