A prisão, na manhã de ontem, do assessor especial da Presidência Tadeu Filippelli, no âmbito das investigações de um esquema de superfaturamento nas obras do estádio Mané Garrincha, aumentou o número de inquilinos do Palácio do Planalto que enfrentam problemas com a Justiça.
São pessoas próximas do presidente que integram sua cota pessoal de nomeações e, em geral, têm o chamado “poder da maçaneta”, por terem livre acesso ao gabinete presidencial praticamente em qualquer momento.
O único que tem se mantido a salvo é o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy. Citado nas delações da Odebrecht, o tucano não foi denunciado na lista encaminhada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para o Supremo Tribunal Federal (STF).
A lista começa pelo presidente Michel Temer. Ele, que no início do ano estabeleceu uma “nota de corte” para a exoneração de ministros — definindo que aqueles que se tornassem réus seriam afastados e os condenados seriam exonerados — passou a ser, desde a quinta-feira passada, alvo de um inquérito aberto pelo ministro do STF Edson Fachin por obstrução de Justiça. Os advogados do presidente desistiram de pedir a suspensão do inquérito e aguardam a perícia no áudio entregue pelo empresário Joesley Batista, dono da JBS, para traçar a estratégia de defesa.
Os dois ministros mais próximos do presidente também estão com a vida complicada. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, foi citado nas delações da Odebrecht com o codinome Gato Angorá, pelo qual era conhecido. Ele é acusado de pedir propinas para a campanha política de 2014.
Moreira começou o governo como secretário do Programa de Parceria de Investimento e tornou-se ministro no início deste ano. Na época, a nomeação foi questionada pela oposição, que comparou a situação com a do ex-presidente Lula, nomeado por Dilma para a Casa Civil como uma maneira de conseguir o foro privilegiado. O STF, contudo, autorizou a nomeação.
O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, um dos principais articuladores políticos do governo, também aparece, nas delações da Odebrecht, com o codinome Primo.
O segundo escalão palaciano não fica atrás. O primeiro a ter atividades suspeitas reveladas foi José Yunes. Nomeado assessor especial, ele foi acusado pelo ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho de ceder o próprio escritório para o recebimento de propinas a políticos do PMDB em 2014. Depois que pediu exoneração, ele mesmo admitiu ter sido usado para levar um envelope para Padilha.
Antes de Filippelli, quem também complicou-se legalmente foi o deputado afastado Rodrigo Rocha Loures. Ex-chefe de gabinete de Temer na vice-presidência e assessor especial do Planalto quando o peemedebista chegou ao poder, Rocha assumiu o mandato de deputado federal após a nomeação de Osmar Serraglio (PMDB-PR) para o Ministério da Justiça. Ele aparece na delação da JBS como o responsável por pegar a mala de dinheiro para o PMDB.
S&P ameaça rebaixar SP, SC e cidade do Rio
A agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) colocou a nota de três governos estaduais brasileiros em observação (CreditWatch) negativa ontem, um dia após de ter feito o mesmo com a nota de risco soberano do Brasil, devido à atual crise política e às incertezas no avanço das reformas. Os ratings de longo prazo em moeda estrangeira e em moeda local na escala global dos estados de São Paulo e de Santa Catarina e o da cidade do Rio de Janeiro podem ser rebaixados em até 90 dias. “A inclusão na listagem CreditWatch com implicações negativas reflete o aumento do risco de que uma solução lenta dos recentes acontecimentos políticos cause rupturas”, disse a agência, acrescentando que “os desafios econômicos e fiscais continuam crescendo”..