Comprei joias para minha mulher com sobras de campanha eleitoral, diz Cabral

Rio, 24 - O ex-governador do Rio Sérgio Cabral admitiu em interrogatório nesta quarta-feira, 24, que utilizou "sobras de campanha eleitoral" para comprar joias para a sua mulher, Adriana Ancelmo.
Ele disse ainda que adquiria as peças em dinheiro nas lojas H. Stern e Antonio Bernardo em datas festivas. O peemedebista foi ouvido na 7ª Vara Federal Criminal do Rio em processo relativo à Operação Calicute, que o levou à prisão em novembro do ano passado.

Cabral decidiu exercer o direito de permanecer parcialmente em silêncio, respondendo apenas perguntas da sua defesa e aos advogados da sua mulher. O interrogatório durou menos de 20 minutos.

O ex-governador negou ter recebido vantagens indevidas das construtoras Andrade Gutierrez e Carioca Engenharia, conforme relatado em delação premiada por ex-executivos da construtora. Também negou ter lavado ou ocultado esses recursos. "(Essa acusação) não é verdadeira". Segundo Cabral, as reuniões com a Andrade Gutierrez eram "sempre sobre assuntos relacionados à prestação de serviços ao Estado".

O ex-governador também negou que recebia 5% sobre os valores dos contratos fechados com as construtoras.
Também afirmou que não tinha conhecimento da cobrança de 1% dos valores das obras, chamada taxa de oxigênio.

Sobre a doação feita em 2010 pela Andrade Gutierrez ao diretório do PMDB, num total de R$ 2 milhões, negou irregularidades. "A doação foi feita de forma legal e transparente ao diretório do partido".

O peemedebista também disse que sua mulher "jamais" soube sobre como se davam os pagamentos das joias. Também afirmou que ela não tinha conhecimento do uso de caixa dois e nega ter recebido valores pelo escritório dela, o Ancelmo Advogados.

"Sempre respeitamos nossas individualidades. Jamais interferi no dia a dia do escritório dela e ela não interferiu no meu (trabalho)", afirmou.

Explicações

Logo no início da audiência, após a defesa de Cabral anunciar o silêncio parcial, o juiz Marcelo Bretas lembrou que os seus advogados têm dito que só responderão em juízo. "O momento é esse, lembrando que há farto material probatório. Documentos importante foram arrecadados", disse o juiz. Bretas fez um longo discurso antes que Cabral começasse a falar.

O magistrado disse também que ele não seria prejudicado pelo fato de não responder às perguntas, mas afirmou que seria a única vez que "vai bater papo sobre tudo o que está acontecendo". "Esse é um momento singular".

Bretas também afirmou que Cabral iria abdicar da possibilidade de apresentar uma satisfação à sociedade e à Justiça e perguntou novamente se ele não responderia as suas perguntas. Cabral reafirmou que seguiria a orientação de sua defesa.

Cabral chegou ao prédio da Justiça federal pouco antes das 12h. A defesa do ex-governador pediu ao juiz que ele fosse entrevistado pela sua defesa antes do interrogatório, o que foi aceito por Bretas.

O ex-governador responde pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e pertinência a organização criminosa no processo da Operação Calicute. Foi o último interrogatório relacionado ao processo, que pode ter sentença até julho, conforme previsão dada por Bretas recentemente. Cabral é réu ainda em outros oito processos.

(Mariana Sallowicz).