Um dos manifestantes feridos no protesto desta quarta-feira (24/5) na Esplanada dos Ministérios pode perder a visão do olho esquerdo. Clementino Nascimento Neto, 35 anos, veio de Goianésia para Brasília só para participar da manifestação e acabou atingido, supostamente, por um tiro de bala de borracha. Ele foi socorrido e levado ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran).
Devido à gravidade do ferimento, Clementino foi transferido ao Hospital de Base de Brasília (HBB), onde passou por uma cirurgia de urgência. Daniel Sabino, cirurgião geral que atendeu o rapaz, afirmou ao Correio que ele foi, provavelmente, atingido por um tiro de borracha. O disparo acertou o globo ocular do paciente. "Esse senhor provavelmente perderá a visão de um olho. Não consigo conceber que as pessoas achem a repressão algo normal", detalhou Sabino.
Clementino foi um dos 49 feridos na violenta manifestação que tomou conta das ruas da capital federal nesta quarta. Um jovem de Santa Cantarina, estudante de física de uma universidade de Araranguá, em Santa Catarina, perdeu três dedos da mão direita por conta de um rojão. Segundo testemunhas, Vitor Rodrigues Fregulia, 22 anos, teria pego o artefato, lançado contra os manifestantes, e tentado lançá-lo contra policiais militares que atuavam na região. A 'bomba' explodiu e mutilou a mão do rapaz. Ele passou por cirurgia também no Base, onde permanecia em observação até a publicação desta reportagem.
Outro homem acabou atingido por um disparo de arma de fogo no maxilar. De identidade não revelada pela Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF), o homem de 35 anos, que veio de Goianésia (GO), foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e não teve o estado de saúde divulgado pelas autoridades do DF. A corregedoria da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) investiga se o tiro que atingiu o homem saiu de uma arma da PM ou de algum manifestante.
O protesto deixou um rastro de destruição no centro do poder brasileiro. Ao todo, oito ministérios foram depredados, entre eles, o da Agricultura, que teve o andar térreo incendiado. Ainda não há um levantamento oficial dos estragos. Uma perícia deve identificar os danos com maior precisão.
Oito pessoas seguiram para unidades policiais do DF, acusadas de vandalismo e perturbação da ordem pública. Diante disso, o presidente Michel Temer assinou um decreto que prevê a ação de 1.200 militares do Exército, para garantir a lei e a ordem no Distrito Federal. A decisão recebeu críticas de juristas ouvidos pelo Correio, que dizem ser ilegal a determinação do chefe do executivo federal.