PM não afasta nem dá nomes de policiais que atiraram contra manifestantes em Brasília

Policiais militares foram flagrados atirando durante confronto com manifestantes na última quarta-feira. Mineiro de BH foi baleado no rosto e está em estado grave

Renato Alves , Paula Pires - Especial para o Correio Braziliense
- Foto: AFP

Ao menos quatro tiros em direção à multidão, com um mineiro de BH ferido e em estado grave. Um disparo à queima-roupa contra um repórter-fotográfico, devidamente identificado, e ainda uma agressão ao jornalista. Tentativa de danificar a câmera de quem flagrou tais cenas. Tudo protagonizado por três policiais militares, na tarde de quarta-feira, durante o ato contra as reformas e o governo de Michel Temer, na Esplanada dos Ministérios. Apesar de recriminar publicamente as ações, registradas em fotos e vídeos, o comando da Polícia Militar (PMDF) resiste em punir os envolvidos. Nenhum sequer foi afastado das atividades de rua. Em entrevista coletiva, após a manifestação, o comandante-geral, coronel Marco Antônio Nunes, classificou a reação dos subordinados como “não recomendada”.



Dois PMs sacaram armas de fogo e atiraram contra um grupo de manifestantes. Imagens feitas pelo jornal O Globo, próximo ao Ministério da Agricultura, mostram quando o primeiro policial corre em direção aos manifestantes atirando para cima.
Em seguida, um outro PM aponta a arma na direção dos manifestantes, disparando vários tiros. “Bora recuar, bora recuar”, diz o policial, após dar os disparos. O mineiro Carlos Geovani Cirilo, de 61 anos, morador de Belo Horizonte, está internado em estado grave em Brasília após levar um tiro no rosto. Ele está no Hospital de Base, sedado e respirando por aparelhos. A Polícia Civil investiga se o caso tem relação com o episódio envolvendo os militares.

Ameaça e agressão


O repórter-fotográfico André Coelho — que flagrou três PMs atirando na direção de manifestantes — também foi alvo da violência da PMDF. “Eu e o fotógrafo Joedson Alves, da agência EFE, percebemos que um grupo de policiais militares havia sacado suas pistolas. E as armas estavam apontadas para os manifestantes. Havia um fato a ser registrado. Quando nos aproximamos para fotografar a cena, um dos policiais veio com a arma em punho. Primeiro na minha direção. De onde estava, Joedson pode registrar a abordagem e mais do que isso. Ao perceber que o PM vinha armado na minha direção, só me restou gritar: “Sou jornalista, sou jornalista!”. Ele respondeu se aproximando e dando um disparo em direção ao chão, perto de mim.
Não satisfeito, me chutou. Atingiu minha perna. Ainda fora do controle, partiu para cima de Joedson dando um tapa na câmera dele”, relatou Coelho. Ele continuou fotografando. “O grupo de PMs estava ali acuado e alguns com arma em punho. Acionei o modo de filmagem em uma das duas câmeras que carregava. E o restante nem preciso descrever. O vídeo relata melhor o que ocorreu: dois policiais disparando na direção dos manifestantes”, completou. O secretário de Segurança Pública, Edval Novaes, garantiu a investigação do caso.

Uma provável sanção a esses PMs, porém, só virá por meio das investigações do inquérito administrativo disciplinar, segundo o chefe da comunicação da corporação, coronel Hêlbert Borges Marins. “Essa recomendação não necessariamente se dará ao final do inquérito.
Dependendo do que for apurado, eles poderão ser retirados das ruas antes”, afirmou. Ele disse ainda que a identidade dos policiais será preservada “para não prejudicar as investigações, como para garantir o princípio da presunção de inocência”. “Assim que todas as condutas sejam individualizadas, os policiais envolvidos no caso passarão por uma avaliação psicológica e, só após essa avaliação, será possível verificar se eles devem ser afastados temporariamente de suas atividades normais”, disse o coronel, sem falar em prazos.



Ainda de acordo com a assessoria da corporação, “a PM segue o protocolo prescrito pela Secretaria de Segurança Pública, bem como legislações vigentes antes, durante e após as manifestações realizadas no Distrito Federal.” A PMDF, no entanto, não explicou porque havia um grupo de policiais portando armas de fogo, em meio a uma manifestação, mesmo após o próprio comandante dizer que essa não é uma conduta recomendada.

O protesto contra o governo federal levou cerca de 45 mil pessoas à Esplanada, que tinha aproximadamente 3 mil policiais militares. O ato terminou com nove pessoas detidas por crimes de “menor potencial ofensivo” — desacato, porte de drogas, resistência, danos ao patrimônio, porte de arma branca e pichação. Todos assinaram termo circunstanciado e foram liberados ainda na quarta-feira. Segundo a Polícia Civil, nenhum deles mora no DF..