Ao menos quatro tiros em direção à multidão, com um mineiro de BH ferido e em estado grave. Um disparo à queima-roupa contra um repórter-fotográfico, devidamente identificado, e ainda uma agressão ao jornalista. Tentativa de danificar a câmera de quem flagrou tais cenas. Tudo protagonizado por três policiais militares, na tarde de quarta-feira, durante o ato contra as reformas e o governo de Michel Temer, na Esplanada dos Ministérios. Apesar de recriminar publicamente as ações, registradas em fotos e vídeos, o comando da Polícia Militar (PMDF) resiste em punir os envolvidos. Nenhum sequer foi afastado das atividades de rua. Em entrevista coletiva, após a manifestação, o comandante-geral, coronel Marco Antônio Nunes, classificou a reação dos subordinados como “não recomendada”.
Dois PMs sacaram armas de fogo e atiraram contra um grupo de manifestantes. Imagens feitas pelo jornal O Globo, próximo ao Ministério da Agricultura, mostram quando o primeiro policial corre em direção aos manifestantes atirando para cima.
Ameaça e agressão
O repórter-fotográfico André Coelho — que flagrou três PMs atirando na direção de manifestantes — também foi alvo da violência da PMDF. “Eu e o fotógrafo Joedson Alves, da agência EFE, percebemos que um grupo de policiais militares havia sacado suas pistolas. E as armas estavam apontadas para os manifestantes. Havia um fato a ser registrado. Quando nos aproximamos para fotografar a cena, um dos policiais veio com a arma em punho. Primeiro na minha direção. De onde estava, Joedson pode registrar a abordagem e mais do que isso. Ao perceber que o PM vinha armado na minha direção, só me restou gritar: “Sou jornalista, sou jornalista!”. Ele respondeu se aproximando e dando um disparo em direção ao chão, perto de mim.
Uma provável sanção a esses PMs, porém, só virá por meio das investigações do inquérito administrativo disciplinar, segundo o chefe da comunicação da corporação, coronel Hêlbert Borges Marins. “Essa recomendação não necessariamente se dará ao final do inquérito.
Ainda de acordo com a assessoria da corporação, “a PM segue o protocolo prescrito pela Secretaria de Segurança Pública, bem como legislações vigentes antes, durante e após as manifestações realizadas no Distrito Federal.” A PMDF, no entanto, não explicou porque havia um grupo de policiais portando armas de fogo, em meio a uma manifestação, mesmo após o próprio comandante dizer que essa não é uma conduta recomendada.
O protesto contra o governo federal levou cerca de 45 mil pessoas à Esplanada, que tinha aproximadamente 3 mil policiais militares. O ato terminou com nove pessoas detidas por crimes de “menor potencial ofensivo” — desacato, porte de drogas, resistência, danos ao patrimônio, porte de arma branca e pichação. Todos assinaram termo circunstanciado e foram liberados ainda na quarta-feira. Segundo a Polícia Civil, nenhum deles mora no DF..