Brasília - No meio da turbulência política provocada pelas delações feitas pelo empresário Joesley Batista, do grupo JBS, e sem conseguir vislumbrar quando e se a crise vai acabar, o governo tenta reconstruir a sua história com o Parlamento passo a passo.
Depois de o presidente Michel Temer gravar um pronunciamento, divulgado nas redes sociais na última quinta-feira, celebrando a aprovação de sete medidas provisórias na Câmara, o Planalto planeja ter uma semana mais efetiva de votações, sobretudo de matérias consideradas estratégicas, como a reforma trabalhista no Senado.
O que não será fácil, diga-se de passagem. Na semana passada, o simples debate quanto à leitura do relatório da reforma na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado gerou uma confusão generalizada que debandou para as vias de fato entre os senadores Randolfe Rodrigues (Psol-AP) e Ataídes Oliveira (PSDB-TO). A sessão pegou fogo, foi interrompida e, quando os trabalhos acabaram retomados, os oposicionistas tentaram arrancar o microfone das mãos do presidente da comissão, senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).
“Semana passada foi uma guerra. E estávamos apenas tentando ler o relatório. Na próxima sessão, será uma guerra ainda maior para votar o texto. Eles (a oposição) puxarão a corda para um lado e nós (governistas) puxaremos a corda para o outro”, resumiu um líder governista, que preferiu não se identificar por acreditar que o Congresso esteja funcionando mais por uma questão de sobrevivência própria do que como uma maneira de resgatar o governo do presidente Michel Temer.
A avaliação do núcleo próximo de Temer é diferente. A sensação é de que, aos poucos, as nuvens começam a se dissipar.
No dia em que a Esplanada dos Ministérios ardia e Temer publicou um decreto autorizando o uso das Forças Armadas para garantia da lei e da ordem, o plenário da Câmara votou sete medidas provisórias, entre elas a que autorizava a continuidade do saque das contas do FGTS para os aniversariantes de setembro a dezembro.
OBSTRUÇÃO
“Eu acho que nós erramos na estratégia, deixamos o plenário vazio. Mas eu tive que sair também porque o PT e o PCdoB decidiram ir embora”, lamenta o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ). “Acho que o Rodrigo (Rodrigo Maia, presidente da Câmara) errou ali. Ele poderia ter suspendido a sessão por causa de toda a confusão que estava acontecendo”, completou Molon.
O deputado Julio Delgado (PSB-MG) concorda, afirmando que daria para ter deixado pelo menos uma parte das bancadas no plenário para manter a obstrução das votações. “O governo comemora a aprovação de sete MPs, mas omite que estávamos fora do plenário. E não concluiu a votação da MP 765, que paga um bônus de produtividade para os auditores fiscais da Receita Federal”, completou Delgado.
Nesta semana na Câmara, o governo tentará aprovar a MP do Refis, que cria regras para um novo parcelamento das dívidas das empresas e retoma as discussões da renegociação das dívidas dos estados. “A ideia é mostrar que as coisas estão funcionando.
O governo está governando, a Justiça e o Congresso estão trabalhando. Apesar de alguns integrantes de alguns partidos da base, que desejam tomar o lugar do Michel e não têm coragem de assumir a conspiração às claras”, criticou o vice-líder do governo na Câmara, Lucio Vieira Lima (PMDB-BA).
Para Lúcio, é preciso que os partidos da coalização governista superem as divisões e dúvidas neste momento de crise. “Senão, como justificar a união para o impeachment da presidente Dilma no ano passado? Vamos passar a impressão de que tiramos a presidente não para apresentar um projeto de país, mas pelo projeto de poder pelo poder”, completou o deputado peemedebista.
O Planalto torce para que novos sustos não ocorram, embora reconheça que a crise está longe de acabar. “Seríamos ingênuos de dizer que está tudo bem”, resumiu um assessor palaciano.
A oposição promete, na próxima semana, pressionar o governo para explicar a saída da presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques, no momento em que os deputados ameaçam instaurar uma CPI para investigaro banco de investimentos.
E o Planalto está em compasso de espera por conta da retomada da votação, em 6 de junho, do processo de cassação da chapa Dilma-Temer. A expectativa é de que um dos ministros recém-empossados — Admar Gonzaga ou Tarcísio Vieira de Carvalho — peça vistas (mais tempo para analisar o processo). Se isso ocorrer, são grandes as chances de o julgamento só ser retomado no fim de junho ou no segundo semestre, já que, em julho, o Judiciário entra em recesso.
.