Até o início do recesso parlamentar, em julho, a Câmara dos Deputados deverá ter aprovado em dois turnos o projeto de lei que trará as regras para o ressarcimento aos estados pelas desonerações nas exportações, previstas na chamada Lei Kandir. O dinheiro é visto como uma forma de aliviar o caixa de estados e municípios. A previsão foi feita ontem pelo deputado federal Leonado Quintão (PMDB), representante de Minas Gerais na Comissão Especial criada em Brasília para discutir o assunto. Minas Gerais teria direito a receber R$ 135,67 bilhões – valor que deixou de arrecadar durante 20 anos sem a cobrança do ICMS nas exportações. Desse total, os 835 municípios do estado teriam direito a R$ 33,92 bilhões.
“Estamos lutando para que o projeto tramite o mais rápido possível. Os recursos foram surrupiados de Minas Gerais e de vários outros estados, e se depender da União esse dinheiro não vai ser devolvido com boa vontade”, afirmou Quintão, que defende a realização de um “encontro de contas” entre a União e o governo mineiro. Isso porque Minas teria uma dívida com o governo federal de R$ 87,2 bilhões, valor bem inferior ao que alega ter direito com a Lei Kandir. Diante do que chamou de “agiotagem” por parte da União, Leonardo Quintão afirmou que o pagamento das perdas com a desoneração das exportações é a única forma de tentar melhorar as contas estaduais.
Depois de passar por dois turnos na Câmara, ainda é preciso que o projeto tramite no Senado e seja sancionado pelo presidente Michel Temer (PMDB).
“Essa é uma demanda que não é fácil do governo federal quitar. No decorrer do tempo, o sistema federativo vem massacrando os municípios, sobrecarregando o caixa com ações que seriam da União e dos estados. Não somos contra as desonerações, mas é preciso que a compensação seja feita”, afirmou Julvan, que é prefeito de Moema, localizada no Centro-Oeste mineiro. Segundo ele, o município que administra tem a receber em torno de R$ 30 milhões. Para garantir o repasse às prefeituras, o deputado estadual Lafayette Andrada (PSD) apresentou projeto de lei prevendo essa transferência tão logo os recursos cheguem ao caixa do estado.
Prejuízos
De acordo com estudo feito pela Comissão Extraordinária de Acerto de Contas entre Minas e a União, criada há dois meses na Assembleia Legislativa, as maiores perdas estão concentradas na Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde houve uma perda acumulada de R$ 12,3 bilhões. Os municípios do Sul e do Triângulo acumulam prejuízos de R$ 3,16 bilhões e R$ 2,98 bilhões, respectivamente. O maior passivo é de Belo Horizonte, totalizando R$ 3,26 bilhões, seguido de Betim (R$ 2,76 bilhões) e Uberlândia (R$ 1,5 bilhão).
A Lei Kandir entrou em vigor no Brasil em setembro de 1996, e prevê a isenção no pagamento de ICMS de produtos e serviços destinados à exportação. A legislação prevê um ressarcimento para os estados exportadores, mas o argumento é que os valores repassados não cobrem as perdas.
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