A semana que começa efetivamente tem potencial para abalar ainda mais a República. O Palácio do Planalto se vê às voltas com o depoimento do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) à Polícia Federal (PF) nesta segunda-feira e sua transferência da sede da corporação no Distrito Federal para a Penitenciária da Papuda. Preso desde sábado, ele pode revelar aos investigadores detalhes da relação do presidente Michel Temer, de quem foi assessor no Palácio do Planalto, com os irmãos Batista, da JBS, com outros empresários e políticos.
As pressões sobre o chefe do Executivo continuarão na noite de amanhã, com o início do julgamento, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), da chapa que dividiu com a ex-presidente Dilma Rousseff nas eleições de 2014.
O defensor de Loures, Cezar Bitencourt, tenta adiar o depoimento do cliente para a tarde quarta-feira. A mudança nos planos não foi confirmada pela PF. Além disso, Bitencourt ingressa com um pedido de liberdade no Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-deputado e o Temer são investigados por corrupção, obstrução de justiça e organização criminosa. O atraso no interrogatório interessa, sobretudo, ao Palácio do Planalto, que teme que o vazamento de trechos poderiam influenciar o julgamento no TSE.
Já o advogado de Temer, Gustavo Guedes, acusou ontem o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de tentar pressionar o TSE para que anule seu mandato no julgamento que começa amanhã. “Temos indicativos de que virão movimentos e iniciativas de Janot às vésperas do julgamento do TSE na tentativa de constranger o tribunal a condenar o presidente”, disse Guedes.
O julgamento, que está previsto para durar três dias mas que pode se prolongar se algum dos juízes pedir vista para revisar o caso, poderia anular o mandato de Temer, que assumiu o cargo há um ano, após o impeachment de Dilma. O advogado disse que chegaram informações ao Palácio do Planalto de que Janot tem mais gravações comprometedoras em seu poder e que poderia torná-las públicas antes do julgamento no TSE.
A terça-feira promete ser ainda mais agitada porque votações importantes ocorrerão no Congresso Nacional. As habilidades políticas de Temer para reconstruir a base aliada serão testada na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal, que votará a reforma trabalhista pela manhã. A proposta enfrenta forte resistência da oposição e de vários governistas, entre eles, o líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL).
Rachadura Mesmo pressionado, o presidente da República tem gastado energias para evitar o desembarque de partidos aliados. Ontem, ele recebeu, no Palácio do Jaburu, ministros do PSDB, que garantiram que, por ora, continuarão na base. Maior agremiação depois do PMDB, os tucanos são fundamentais para que Temer mantenha alguma chance de governabilidade e de que o Congresso aprove reformas, mesmo que desidratadas. Uma possível ruptura poderia estimular outros partidos a romper com o Executivo. Participaram do encontro o secretário de Governo, Antonio Imbassahy, além dos ministros das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, e das Cidades, Bruno Araújo.
A executiva nacional do PSDB se reúne da próxima quinta-feira, após convocação do presidente do partido, senador Tarso Jereissati (CE). Desde a abertura do inquérito para investigar Temer, a ala mais jovem entre os tucanos pressiona para que a agremiação deixe a base de apoio ao governo.
Na Câmara, a bancada, com 46 deputados, está rachada. Uma eventual ruptura, no entanto, depende do aval do colegiado. Reservadamente, alguns parlamentares mais experientes afirmaram que a condenação do presidente da República no TSE ou a revelação de fatos que o comprometem no depoimento de Loures podem obrigá-los a mudar de ideia.
À noite um novo foco de preocupação ocorreu em São Paulo. O ato SP Pelas Diretas Já, organizado por artistas e produtores culturais independentes de partidos políticos, reuniu, segundo os organizadores, 100 mil pessoas – a Guarda Municipal estimou 10 mil. Em clima pacífico e ao som de blocos de carnaval e cantores como Mano Brown, Criolo, Otto, Paulo Miklos e Emicida, os manifestantes pediram a saída do presidente da República.
(Com agências)
Agenda decisiva
Veja os principais acontecimentos que agitarão a República
Segunda-feira
Transferência do ex-deputado Rocha Loures para a da Sede da PF em Brasília para Papuda
A defesa de Loures impetrará recurso no Supremo Tribunal Federal (STF) para liberar o cliente
Terça-feira
Início do julgamento do pedido de cassação da chapa Dilma-Temer no TSE, às 19h
A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal deve votar a reforma trabalhista
STF pode julgar recurso da defesa de Loures que solicita que a prisão do cliente seja revogada
Quarta e quinta-feira
Sessão de julgamento do pedido de cassação da chapa Dilma-Temer no TSE, às 19h