No final do ano passado, Renan contou com o apoio da Mesa Diretora da Casa para desobedecer decisão do STF de afastá-lo da presidência do Senado, que foi posteriormente revogada pelo plenário da Corte. Sobre o episódio, o líder do PMDB afirmou hoje que houve "atropelamento de prerrogativa constitucional" e "excesso de prerrogativa".
"Naquele caso anterior era o afastamento por liminar do presidente do Poder. Hoje, por liminar é o afastamento de um senador. Apesar de serem casos diferentes, eu acho que não podia em um caso, e o STF decidiu dessa forma, como não poderia no outro caso (Aécio), porque significa afastar para condenar, significa que não há presunção de inocência", avaliou o líder do PMDB.
Questionado sobre a postura do atual presidente da Casa, Eunício Oliveira (CE), de não interromper nenhum benefício parlamentar de Aécio, inclusive o funcionamento do gabinete, Renan afirmou que "tudo isso faz parte de uma grande confusão dos Poderes e da competência de cada um".
"Toda hora você vê muita gente jogando com essa confusão na disputa da separação dos Poderes. Isso é terrível para a democracia", declarou. "Mais do que nunca precisa ficar claro o que cada Poder pode. É essa reconstitucionalização do Brasil que mais do que nunca precisa ser feita."
Ele considera que é preciso buscar um entendimento entre os Três Poderes, mas questionou os limites de atuação de cada um.
Decisão
Eunício reafirmou hoje que não está descumprindo a liminar do STF sobre o caso de Aécio, justificando que não existe previsão de afastamento e que cabe ao Supremo esclarecer como deve ser cumprida a decisão. Ele se reuniu com os integrantes da Mesa Diretora para debater a questão.
"Comuniquei ao senador Aécio a decisão do STF de afastá-lo. Não tem previsão regimental, constitucional de afastamento pela Justiça. Cabe ao ministro Fachin determinar a forma do afastamento e eu cumprirei a decisão complementar", disse Eunício.
Fachin determinou o afastamento do tucano em 18 de maio. Desde então, o senador não participa de atividades parlamentares, como comissões e votações. Ainda assim, não há qualquer informação de que o salário do senador seria cortado, conforme determina o regimento do Senado em caso de ausência em sessões de votação. Auxílios, verba de escritório e gabinete funcionam normalmente.
CPI
Renan também criticou a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso para questionar a homologação da delação dos donos da JBS, Joesley e Wesley Batista, autorizada por Fachin.
"Cria-se uma CPI no Legislativo, mas CPI pode, porque o Legislativo é político, mas você pode utilizar essa CPI nessa guerra política? Esse foi o caminho escolhido pelo Eduardo Cunha", disse, referindo-se ao ex-presidente da Câmara, que está preso em Curitiba.
Em mais uma demonstração de resistência da base do governo Temer contra as investigações que recaem sobre o presidente, parlamentares buscam trazer Fachin e membros do Ministério Público para depor na CPI da JBS, composta por deputados e senadores. O colegiado ainda não foi instalado.
(Julia Lindner, Isabela Bonfim e Thiago Faria).