Brasília, 17 - O empresário Joesley Batista, principal acionista do Grupo J&F, prestou um novo depoimento à Polícia Federal na manhã desta sexta-feira, 16, no inquérito em que o presidente Michel Temer é investigado pelos crimes de corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa. Reafirmou aos investigadores da Operação Patmos as declarações prestadas no âmbito do seu acordo de delação.
O depoimento de Joesley e outros prestados nos últimos dias pelo corretor Lúcio Bolonha Funaro, pelo ex-assessor de Temer e ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) - também alvo do inquérito - e pelo diretor jurídico da J&F, Francisco de Assis, serão usados na denúncia a ser oferecida pelo procurador-geral Rodrigo Janot contra o presidente.
Temer dedicou os dias que antecedem sua viagem à Rússia e à Noruega, a partir de segunda-feira, para reforçar sua estratégia jurídica. Na quinta-feira, 15, ele recebeu, no Palácio do Jaburu, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Carlos Velloso e o ministro da Justiça, Torquato Jardim.
Velloso, segundo auxiliares do presidente, poderá “auxiliar” na sua defesa, conduzida formalmente pelo advogado Antonio Cláudio Mariz de Oliveira. “Conversamos sobre temas variados, mas prefiro não comentar. Até porque ele (Temer) pode querer me contratar para figurar como advogado, embora eu considere que ele está muito bem servido com o doutor Mariz”, disse Velloso ao jornal O Estado de S. Paulo.
Após o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo, aumentar o prazo para encerrar o inquérito, a PF deve concluir a investigação no início da próxima semana. Com a investigação conclusa, Janot terá mais cinco dias para oferecer a denúncia. A expectativa entre procuradores é de que ele use todo o tempo disponível e protocole a acusação formal no STF até a sexta-feira, dia 23.
Joesley foi chamado novamente pela PF para esclarecer os fatos relacionados ao presidente e Loures. Na oitiva, o empresário também foi questionado sobre os repasses para o deputado cassado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
O delator reiterou aos delegados da PF que gravou Temer e que após a conversa repassou valores a seu ex-assessor para ter privilégios no governo. Loures foi filmado pela PF levando uma mala com R$ 500 mil entregue por um executivo da JBS, que integra a holding J&F. Sobre os pagamentos a Cunha e Funaro, o delator disse que os repasses tinham como finalidade manter o silêncio dos dois.
Ouvido pela Polícia Federal anteontem, o corretor confirmou ter atuado como operador financeiro do PMDB da Câmara, grupo político de Temer.
Em meio a negociação de um acordo de colaboração premiada, Funaro prestou dois depoimentos no inquérito aberto no Supremo. Ele contratou recentemente o advogado Antonio Figueiredo Basto, especialista em delação, e já teria entregue uma proposta à PGR. No material encaminhado aos procuradores da Lava Jato, Temer figura como principal alvo.
Segundo apurou o Estado, Funaro respondeu nos depoimentos a perguntas sobre doações de campanha e sobre o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). Em relatório, a Polícia Federal concluiu que Geddel atuava com Funaro e Cunha para facilitar a liberação de empréstimos da Caixa Econômica Federal em troca de propina. Geddel também foi apontado por Joesley como porta-voz de Temer.
Funaro está preso no Presídio da Papuda, em Brasília. É acusado, junto com Geddel, de envolvimento em esquema de intermediação do FI-FGTS, fundo mantido com recursos do trabalhador e gerido pela Caixa.
Em nota, a assessoria da Presidência da República disse que Temer só tem conhecimento de doações legais ao partido.
O advogado de Geddel, Gamil Föppel, qualificou de “inservíveis as especulações sobre o depoimento de Funaro”. Ele disse que Geddel “jamais praticou qualquer ilegalidade” e “permanece absolutamente convicto de que ninguém poderá, comprovadamente, enredá-lo em qualquer contexto de ilicitude - ao menos, sem que se valha de inverdades e de sofismas”.
A assessoria do Grupo J&F, também em nota, disse que “o mecanismo de colaboração com a Justiça está permitindo que o Brasil mude para melhor. Não seria possível expor a corrupção no País sem que os responsáveis pelos atos ilícitos admitissem e relatassem como e com quem agiram, fornecendo provas. Todos os documentos e informações referentes à investigação foram entregues e estão em poder da Justiça.”
Temer ficará cinco dias no exterior durante a viagem a Moscou e Oslo. Durante esse período o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), vai assumir a cadeira presidencial. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
(Fabio Serapião, Andreza Matais e Alexa Salomão)