Na entrevista concedida à revista Época, o empresário Joesley Batista, do grupo J&F, dono da JBS, explica que o esquema organizado de pagamento de propina começou com o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, o Partido dos Trabalhadores (PT) institucionalizou a corrupção num modelo que passou a ser reproduzido pelas demais legendas.
Segundo o delator, esse esquema contempla a criação de núcleos, a divisão de tarefas entre integrantes em estados, ministérios, fundos de pensão e bancos. O início do esquema se deu há cerca de 15 anos, quando se configurou grupo com tarefas divididas entre chefe, operador e delator. Joesley conta que o ex-ministro da Fazenda dos governos Lula e Dilma, Guido Mantega, era seu interlocutor com o partido. Durante a entrevista, o delator lembra que entregou provas aos procuradores e que o PT tinha o maior saldo de propina com a JBS.
O dono da JBS afirmou na entrevista que os pagamentos viravam obrigação. “Olhe o caso do Guido. ‘O BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) comprou ações e investiu na sua empresa. Como você não vai me dar dinheiro?’”. Embora o delator tenha dito que as relações da empresa com com o banco eram republicanas, ele afirmou que pagava propina para Mantega por causa de ameaças. “Era só o Guido dizer no BNDES que não era mais de interesse do governo investir no agronegócio e pronto”.
Número 2
Na entrevista, Joesley disse que o presidente Michel Temer (PMDB) era “o chefe da maior e mais perigosa organização criminosa do Brasil”. Questionado sobre quem era o número 2, ele responde que é o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG). Isso porque o tucano ficou em segundo lugar nas eleições de 2014. Ele explica que, por essa razão, decidiu fazer gravações com o “número 1” e o “número 2” para entregar ao Ministério Público Federal (MPF). O dono da JBS afirma que o mesmo sistema de caixa 2, nota fria e compra de coligação usado pelo PT foi aditado pelo PSDB.
O PSDB e Aécio destacam que, conforme dito pelos próprios delatores, a JBS doou cerca de R$ 60 milhões para as campanhas presidenciais e estaduais do partido em 2014, de acordo com o registrado no TSE. E, segundo eles, jamais houve contrapartida para essas doações, o que torna absurdo caracterizá-las como propina.
À revista, Joesley afirmou também que decidiu gravar a conversa com o presidente da República no Palácio do Jaburu, em março, para saber se a “agenda” de Temer passava pela compra do silêncio do operador Lúcio Funaro e do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ambos presos na Lava-Jato.
Joesley foi perguntado por Época por que não gravou Lula. Ele responde que “nunca teve uma conversa não republicana com Lula”. Diz que esteve com o ex-presidente duas vezes, em 2006 e em 2013.
Cobrança
O dono da JBS alega à revista que era cobrado pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-RJ) para que pagasse o silêncio de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro. “Virei refém de dois presidiários. Combinei quando já estava claro que eles seriam presos, no ano passado. O Eduardo me pediu R$ 5 milhões”, disse na entrevista.