Centro do poder nacional, o Distrito Federal é a unidade da Federação que concentra 57,2% - R$ 70,9 bilhões - dos prejuízos apurados pela Polícia Federal em 2.056 operações que investigaram organizações criminosas de 2013 a 2017. O mapa do que os especialistas chamam de máfias revela uma característica desse tipo de crime: a proximidade com o Estado.
Parte desse protagonismo do Distrito Federal se explica pelo fato de que entre os inquéritos de 82 operações feitas pela Superintendência Regional da PF na capital federal estão grandes casos como Greenfield (prejuízo de 53,8 bilhões), Acrônimo (R$ 5,8 bilhões), Zelotes (R$ 5,4 bilhões) e Janus (R$ 4,3 bilhões).
As operações apuram desvios de verbas públicas, crimes financeiros de órgãos públicos e delitos tributários ligados à corrupção de agentes públicos. O Estado mostrou ontem que o País perdeu, em quatro anos, R$ 123 bilhões em razão da atuação das organizações criminosas.
Os investigados também têm relação com o DF. Incluem a elite da política que vive ou trabalha no Planalto Central, bem como os empresários que por lá circulam. É por isso que o corretor da bolsa Lúcio Funaro está preso em Brasília e o dono da JBS, Joesley Batista, também presta depoimentos lá.
Na lista de políticos, por sua vez, figuram o alto comando de partidos, como o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG). Outros estão há anos causando polêmicas em Brasília e não é a primeira vez que têm o nome envolvido em ilícitos. É o caso do ex-ministro Geddel Vieira Lima, que estava no primeiro grande escândalo de corrupção do País após o fim da ditadura: os anões do Orçamento, em que, depois, foi absolvido.
Lava-Jato
A Superintendência do Paraná é a segunda que mais detectou prejuízos causados por organizações criminosas no País - graças à Lava Jato e ao combate do crime na fronteira com o Paraguai. Foram R$ 19,4 bilhões, dos quais R$ 13,8 bilhões nas diversas fases da Lava Jato, e R$ 4,5 bilhões ligados ao contrabando de mercadorias alvo da Operação Celeno.
O terceiro lugar no ranking é reservado ao Rio Grande do Sul por causa de duas operações: a Enredados (R$ 5,1 bilhões) e a Huno (R$ 2 bilhões). Em suas duas fases em 2015 e 2016, a Enredados investigou esquema de propinas no extinto Ministério da Pesca, no governo Dilma Rousseff, e de funcionários do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Ao todo, 90 acusados foram indiciados pelos federais sob a acusação de corrupção e crimes ambientais - 27 eram funcionários públicos. A Operação Huno investigou o mercado clandestino de cigarros.
São Paulo ocupa apenas o quarto lugar neste ranking, com R$ 3,9 bilhões. Muitos dos Estados com menor quantidade de prejuízos estão em regiões de fronteira, como o Acre, Rondônia e Mato Grosso do Sul. Outro dado surpreendente é o pequeno papel da criminalidade comum nos dados da PF. Ali o tráfico de drogas seria responsável por danos de apenas R$ 76 milhões, enquanto que os ladrões de banco, que usam explosivos e armas de fogo, teriam causado um prejuízo de R$ 125 milhões aos cofres públicos.
Segundo o sociólogo Guaracy Mingardi, especialista em criminalidade organizada, haveria uma razão para justificar a disparidade: "É muito mais fácil trabalhar casos que envolvem empresários e políticos do que os que envolvem traficantes".
Economia
A PF calculou ainda qual o tamanho do prejuízo evitado pelas operações em cada unidade da Federação. Mais uma vez, o Distrito Federal lidera, com R$ 45,2 bilhões, dos quais R$ 20 bilhões em apenas uma ação: a Operação Quatro Mãos, que apurou um esquema de propina denunciado pelo Banco Itaú no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). O segundo maior prejuízo evitado por uma operação foi na Acrônimo (R$ 12 bilhões).
Também em Brasília estão os mais altos valores apreendidos e sequestrados - R$ 11 bilhões só durante a Operação Greenfield. Nessa lista, a Lava Jato ficou em 2.º lugar, com a recuperação de R$ 5,1 bilhões.