São Paulo – O coordenador da força-tarefa da Lava-Jato e procurador do Ministério Público Federal, Deltan Dallagnol, recebeu R$ 219 mil em 2016 em 12 palestras feitas para falar da corrupção e da história da operação.
A atividade docente, disse ele, é autorizada pela Constituição, por resoluções do Conselho Nacional do Ministério Público e pelo Conselho Nacional de Justiça. As palestras são reconhecidas como “atividade docente” por uma resolução do CNJ. “A atividade de dar palestras é legal, lícita e privada.”
Dallagnol fez sua maior palestra em evento na noite de quinta-feira, em São Paulo, da XP Investimentos, que reuniu 5 mil pessoas. O procurador, ovacionado pelos presentes, que o aplaudiram de pé, disse que o interesse por suas declarações vem da identificação das pessoas com a causa, o combate à corrupção. “Recursos públicos são desviados pela corrupção e geram mal estar.”
Perguntado sobre quanto recebeu pela palestra de quinta, Dallagnol disse que não poderia informar por não falar de casos específicos, que no geral possuem contrato de confidencialidade.
O ingresso para o evento da XP, que começou quinta e termina hoje, custa R$ 800 e reúne nomes como o prefeito de São Paulo, João Doria, e o ex-presidente do Itaú, Roberto Setubal. Dallagnol rebateu críticas de alguns partidos, de que estaria enriquecendo com a repercussão da Operação Lava-Jato e mencionando pessoas investigadas em suas declarações. “Nas minhas palestras não trato de casos específicos, trato de corrupção. Não faço menções específicas a corruptos.”
“Por decisão própria, em 2016 eu decidi destinar todos os valores que seriam recebidos com palestras para uma entidade filantrópica”, afirmou o procurador, citando o hospital no Paraná. Segundo ele, foi autorizado que o hospital preste informações sobre os valores recebidos. As próprias entidades que bancaram as palestras repassaram os recursos aos hospitais, sem passar por Dallagnol.
No evento de quinta, o procurador afirmou que a corrupção rouba a estabilidade política de um país, afasta investidores e gera descrença nas instituições. “Em país corrupto, grandes campeões nacionais largaram na frente porque pagaram propina”, afirmou o procurador, sem citar nomes. Dallagnoç mencionou estimativas de que a corrupção desvia no Brasil ao redor de R$ 200 bilhões por ano. “A corrupção gera danos qualitativos e quantitativos”, observou.
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